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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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intervalo de tempo apropriado para não dar a impressão de ter recuado em

pânico. Também esperei mais alguns segundos e, sem planejar meus

movimentos, permiti que meu pé procurasse pelo outro. Mal tinha começado

a busca quando meu dedão de repente atingiu o pé dele; Oliver quase não

tinha se afastado, como um navio pirata que dá todos os sinais de ter fugido

para longe, mas na verdade está se escondendo na névoa a não mais do que

cinquenta metros, esperando para atacar assim que tiver chance. Mal tive

tempo de fazer algo com o pé e, sem aviso, sem me dar um tempo para que

eu fosse até ele ou deixasse meu pé descansar a uma distância segura, de

súbito, suave e gentilmente, o pé dele veio até o meu e começou a acariciá-lo,

massageá-lo, sem parar um segundo, o calcanhar redondo e macio

imobilizando meu pé, às vezes o pressionando, mas aliviando o peso em

seguida com mais carinho dos dedos, o que indicava, o tempo todo, que

aquilo era mera diversão, porque era o modo que ele tinha encontrado de

desafiar todas as pessoas à mesa, mas ao mesmo tempo de deixar claro que

não tinha nada a ver com os outros e que ficaria só entre nós, porque só dizia

respeito a nós dois, mas eu não devia levar a sério demais. O sigilo e a

teimosia de suas carícias fizeram meu corpo se arrepiar. Fui tomado por uma

vertigem súbita. Não, eu não ia chorar, não se tratava de um ataque de

pânico, era um “desfalecimento”, e eu também não ia gozar no meu calção,

embora estivesse gostando muito, muito, principalmente quando o arco do pé

dele se encaixou sobre o meu. Quando olhei para o meu prato de sobremesa e

vi o bolo de chocolate coberto com calda de framboesa, parecia que alguém

estava derramando mais calda do que o normal, e que a calda vinha do teto,

até que de repente percebi que estava vindo do meu nariz. Respirei fundo,

amassei o guardanapo e o levei até o nariz, jogando a cabeça para trás o

máximo que podia.

— Ghiaccio, gelo, Mafalda, per favore, presto — eu disse calmamente, para

demonstrar que estava no controle da situação. — Fui até o penhasco hoje de

manhã. Isso sempre acontece — continuei, me desculpando com os

convidados.

Ouvi uma confusão de sons apressados conforme as pessoas entravam e

saíam da sala de jantar. Eu tinha fechado os olhos.

Controle-se, dizia a mim mesmo, controle-se. Não deixe que seu corpo revele

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