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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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Ele inclina o corpo em direção ao meu lado da mesa: Porque gosto de você.

Olha só, começo a responder. Beba mais um gole.

Serve o copo dele e o meu. Deixe-me dizer o seguinte: eu não… Mas ele não

me deixa terminar. Mais um motivo para você beber mais um gole.

Minha mente faz soar diversos alarmes. Eles o embebedam, o levam para

algum lugar, roubam tudo o que você tem e quando você reclama para a

polícia, que não é menos corrupta que os ladrões, fazem todo tipo de alegação

sobre você e têm fotos para provar. Outra preocupação me invade: a conta do

bar pode se revelar astronômica enquanto aquele que está fazendo os pedidos

bebe chá e finge ficar bêbado. Truque mais antigo do mundo… eu nasci

ontem por acaso? Não estou interessado.

Por favor, vamos só… Beba mais um. Ele sorri. Estou prestes a repetir meu

protesto cansado, mas já posso ouvi-lo dizer Beba mais um. Estou quase

começando a rir. Ele vê minha risada, não se importa com o motivo pelo qual

estou rindo, o importante é que estou rindo. Agora serve um para si mesmo.

Olha só, amigo, espero que você não ache que vou pagar por essas bebidas.

Meu eu burguês finalmente fala. Conheço todas essas delicadezas que

sempre, sempre acabam tirando vantagem de estrangeiros. Não pedi que você

pagasse as bebidas. Nem, já que estamos falando nisso, que me pagasse.

Ironicamente, ele não se ofende.

Acho que esperava aquilo. Deve ter feito isso um milhão de vezes… ossos do

ofício, provavelmente. Aqui, beba mais um gole… em nome da amizade.

Amizade? Você não precisa ter medo de mim. Não vou dormir com você.

Talvez não, talvez sim. A noite é uma criança. E eu não desisti. Então ele tira

o boné e solta tanto cabelo que não consigo entender como tudo aquilo podia

ser enrolado e preso embaixo de um boné tão pequeno. Ele era mulher.

Decepcionado? Não, pelo contrário.

Os pulsos minúsculos, o ar tímido, a pele mais macia que o mundo já viu,

uma ternura que parecia escorrer de seus olhos, não com a ousadia dos que já

viveram o suficiente, mas com as promessas mais encantadoras de doçura e

castidade total na cama. Se eu estava decepcionado? Talvez… porque o

incômodo da situação tinha se dissipado. Então veio uma mão que tocou meu

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