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— Azeitonas — disse ela, encarando Oliver, como se dissesse Estavam bem
debaixo do seu nariz… você procurou mesmo? Mais alguma coisa? —
Talvez eu possa convencê-la a aceitar um martíni — disse ele.
— Tem sido uma noite louca. Um drinque não seria capaz de deixá- la mais
louca. Faça um pequeno.
— Quer que eu ensine? Ele começou a explicar as complexidades de um dry
martíni. Não se incomodava com o fato de ser barman do barman.
— Onde você aprendeu isso? — perguntei.
— Drincologia I, cortesia de Harvard. Nos fins de semana, trabalhei como
barman enquanto estudava lá. Depois virei chef, e depois fiz bufês para
eventos. Mas sempre fui jogador de pôquer.
Sempre que falava dos anos de faculdade, Oliver emanava um brilho mágico
incandescente, como se pertencessem a outra vida, uma vida à qual eu não
tinha acesso porque já pertencia ao passado. Provas de sua existência
apareciam, como agora, em sua habilidade de preparar drinques, ou de
diferenciar grapas, ou de conversar com todas as mulheres, ou nos
misteriosos envelopes quadrados endereçados a ele que chegavam à nossa
casa, vindos de todas as partes do mundo.
Nunca invejei seu passado ou me senti ameaçado por ele. Todas essas facetas
de sua vida tinham o caráter misterioso daquilo que havia acontecido na vida
do meu pai muito antes do meu nascimento, mas que ainda ressoavam no
presente. Eu não invejava a vida que veio antes de mim, nem desejava voltar
no tempo para a época em que ele tinha minha idade.
Éramos no máximo quinze pessoas agora e ocupávamos uma das grandes
mesas de madeira rústica. O garçom anunciou a última chamada uma
segunda vez. Em dez minutos, os outros grupos foram embora. O garçom já
tinha começado a baixar a porta de metal, por causa de que era hora da
chiusura. O jukebox foi sumariamente desligado. Se cada um de nós
continuasse falando, ficaríamos ali até o nascer do sol.