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qualquer coisa que pudesse acontecer porque não teria volta, aquele era seu
jeito de pedir, e aquela era minha chance de dizer não ou de dizer algo e
ganhar tempo para discutir mais a questão comigo mesmo, agora que
havíamos chegado a esse ponto… mas eu não tinha mais tempo, porque ele
aproximou os lábios dos meus, em um beijo terno, conciliatório, encontrovocê-no-
meio-do-caminho-mas-não-além, até perceber o quanto os meus
estavam famintos. Gostaria de saber calibrar meu beijo como ele. Mas a
paixão nos permite esconder mais e, naquele momento no penhasco de
Monet, se queria esconder alguma coisa sobre mim naquele beijo, eu também
estava desesperado para me perder nele, como quando desejamos que o chão
se abra sob nossos pés e nos engula.
— Melhor agora? — perguntou ele.
Não respondi, mas levantei o rosto e o beijei mais uma vez, um beijo quase
selvagem, não porque eu estivesse cheio de paixão ou porque não tivesse
encontrado no primeiro o fervor que procurava, mas porque não tinha certeza
de que nosso beijo tivesse me convencido de qualquer coisa sobre mim. Nem
tinha certeza de que havia gostado tanto quanto esperava gostar, e precisava
testar de novo. Mesmo no ato em si, ao que parece, eu preciso testar o teste.
Em minha mente surgiam os pensamentos mais mundanos. Tanta negação? ,
teria comentado um discípulo menor de Freud. Tentei sanar minha dúvida
com mais um beijo violento. Eu não queria paixão. Não queria prazer. Talvez
nem mesmo quisesse provas. E não queria palavras, conversas bobas,
conversas importantes, conversas sobre bicicletas, sobre livros, nada disso.
Só o sol, a grama, a brisa do mar e o cheiro do seu corpo emanando de seu
peito, seu pescoço, suas axilas. Apenas me pegue e me molde, me vire do
avesso, até que, como um personagem de Ovídio, eu e sua luxúria sejamos
um só, era isso que eu queria. Coloque em mim uma venda, segure minha
mão e não me peça para pensar — você pode fazer isso por mim? Eu não
sabia aonde tudo aquilo levaria, mas estava me entregando a ele, centímetro a
centímetro, e Oliver devia saber, porque senti que ele ainda mantinha certa
distância entre nós. Embora nossos rostos se tocassem, os corpos estavam
distantes. Eu sabia que qualquer coisa que fizesse agora, qualquer movimento
poderia desfazer a harmonia do momento. Então, imaginando que
provavelmente não haveria outro beijo, comecei a testar a eventual separação
de nossas bocas e descobri, ao fazer menção de terminar o beijo, o quanto