Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
transformada em mesinha de canto, livros, cartões, música.
Decidi entrar embaixo das cobertas. Amei o cheiro. Quis amar o cheiro.
Gostei até do fato de ter coisas que não haviam sido tiradas de cima da cama,
e não me incomodou ficar batendo o joelho nelas e enfiando o pé embaixo
delas, porque eram parte da sua cama, da sua vida, do seu mundo.
Ele também entrou embaixo das cobertas e, antes que eu pudesse me dar
conta, começou a tirar minha roupa. Eu tinha ficado preocupado, pensando
em como ia ficar nu, em como, caso ele não ajudasse, ia fazer o que tantas
garotas fazem nos filmes, tirar a camiseta, abaixar a calça e ficar ali, pelado,
os braços ao lado do corpo, como quem diz: Aqui estou eu, sou assim, venha,
me tome, sou seu. Mas ele tinha resolvido o problema.
— Isso sai, e isso sai, e isso sai, e isso sai… — sussurrou ele.
Aquilo me fez rir e, de repente, eu estava totalmente nu, sentindo o peso do
lençol no meu pau, e não havia mais nenhum segredo no mundo, porque o
desejo de estar na cama com ele era meu único segredo, e agora estava
compartilhando a cama com ele. Como era maravilhoso sentir suas mãos por
todo o meu corpo embaixo dos lençóis, parecia que parte de nós, como um
grupo adiantado de exploradores, já tinha chegado à intimidade, enquanto o
restante, exposto do lado de fora dos lençóis, ainda estivesse lidando com
minúcias, como os retardatários batendo os pés no frio enquanto todos já
estão se aquecendo do lado de dentro da boate lotada. Ele ainda estava
vestido, e eu, não mais. Amei ficar nu diante dele. Então ele me beijou, e me
beijou de novo, mais profundamente na segunda vez, como se também
estivesse por fim se libertando. Em algum momento percebi que ele já estava
nu havia um tempo, embora não tenha percebido quando tirou a roupa, mas
ali estava ele, nenhuma parte do seu corpo não me tocava. Onde eu havia
estado? Tinha pensado em fazer a pergunta delicada, mas ela também já
parecia ter sido respondida havia um tempo, porque quando finalmente tive
coragem de perguntar, ele respondeu: — Eu já disse, estou bem.
— Eu disse que também estava bem? — Sim.
Ele sorriu. Desviei o olhar, porque ele estava me encarando, e eu sabia que