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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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Ele falou para o ovo do modo que meu pai tinha falado para o jornal.

— Ele aprova isso? — Eu uso meu próprio dinheiro. Faço isso desde o curso

preparatório. Ele não teria como não aprovar.

Tive inveja dele.

— Bebeu muito ontem à noite? — Entre outras coisas...

Desta vez ele estava passando manteiga no pão.

— Acho que não quero saber — disse meu pai.

— Meu pai também não. E, para ser sincero, eu mesmo não faço questão de

lembrar.

Isso tinha sido por minha causa? Olha, nunca vai acontecer nada entre nós e,

quanto antes você entender isso, melhor para todos.

Ou seria só pose? Como eu admirava pessoas que falavam de seus vícios

como se fossem parentes distantes que aprenderam a suportar porque não

queriam deserdá-los. Entre outras coisas. Não faço questão de lembrar —

assim como Eu me conheço — apontava para um reino da experiência

humana a que só os outros tinham acesso, não eu. Como eu desejava poder

dizer algo assim um dia… que eu não fazia questão de lembrar o que tinha

feito à noite na glória da manhã. Fiquei imaginando quais seriam as outras

coisas que demandavam um banho.

Você tomou banho porque, do contrário, seu corpo não aguentaria? Ou tomou

banho para esquecer, para lavar qualquer vestígio de obscenidade e

degradação da noite anterior? Ah, declarar seus vícios balançando a cabeça e

engoli-los com suco de damasco preparado na hora pelos dedos artríticos de

Mafalda e estalar os lábios depois! — Você guarda o que ganha? — Guardo e

invisto, Pro.

— Quem dera eu tivesse a sua cabeça com a sua idade; teria me poupado

muitos desvios errados — disse meu pai.

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