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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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pelo modo como a bicicleta derrapava com malícia no caminho de cascalho e

seguia em frente quando era óbvio que não havia mais nenhuma tração, só

para parar de repente, de modo brusco, e pular da bicicleta com um gesto que

parecia dizer voilà.

Tentava sempre mantê-lo em meu campo de visão. Nunca deixava que se

distanciasse demais de mim, a não ser nos momentos em que não estava

comigo. E quando não estava comigo, não me importava o que ele fizesse,

desde que permanecesse exatamente a mesma pessoa que era quando estava.

Que ele não seja outra pessoa quando estiver distante.

Que não seja alguém que eu nunca vi. Que não tenha outra vida além da que

eu sei que ele tem conosco, comigo.

Que eu não o perca.

Eu sabia que não tinha nada que o prendesse, nada a oferecer, nada que o

atraísse.

Eu não era nada.

Só um garoto.

Ele simplesmente dispensava sua atenção quando lhe convinha.

Quando me ajudava a entender um fragmento de Heráclito, porque eu estava

determinado a ler “seu” autor, as palavras que me ocorriam não eram

“gentileza” ou “generosidade”, mas “paciência e “tolerância”, que eram mais

valiosas. Momentos depois, quando ele perguntava se eu estava gostando do

livro, a pergunta era motivada mais pela oportunidade de bater papo do que

pela curiosidade. Tudo era casual.

Ele ficava à vontade com o casual.

Por que você não está na praia com os outros? Volte para sua música.

Até depois! Para você! Jogar conversa fora.

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