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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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* * *

Oliver cumpriu a promessa. Voltou um pouco antes do Natal e ficou até o

Ano-novo. No início, pareceu distante. Ele precisa de tempo, pensei.

Mas eu também precisava. Ele passava a maior parte do tempo com meus

pais, e então com Vimini, que ficou feliz por sentir que nada tinha mudado

entre eles. Eu estava começando a temer que tivéssemos voltado aos

primeiros dias quando, à exceção dos gracejos no pátio, a evasão e a

indiferença eram a norma. Por que suas ligações não me prepararam para

aquilo? Eu era o responsável pelo novo tom da nossa amizade? Meus pais

tinham dito alguma coisa? Ele voltou por mim? Ou por eles, pela casa, para

fugir? Ele voltou pelo livro, que já tinha sido publicado na Inglaterra, na

França, na Alemanha e finalmente estava prestes a sair na Itália. Era um

exemplar elegante, e todos estávamos muito felizes por ele, incluindo o

livreiro de B., que prometera uma festa de lançamento no verão seguinte.

— Talvez. Vamos ver — respondeu Oliver quando passamos lá de bicicleta.

A sorveteria estava fechada. Assim como a floricultura e a farmácia onde

havíamos parado ao voltar do penhasco naquele primeiro dia quando ele me

mostrou que tinha se machucado feio. Tudo pertencia a outra vida. A cidade

parecia vazia, o céu estava cinza. Certa noite ele teve uma longa conversa

com meu pai. Provavelmente estavam falando de mim, ou de minhas

perspectivas para a faculdade, ou do verão anterior, ou de seu livro novo.

Ouvi risadas no corredor lá embaixo, minha mãe o beijou. Um tempo depois

alguém bateu à minha porta, não a da varanda… aquela entrada ficaria

permanentemente fechada.

— Quer conversar? Eu já estava deitado. Ele estava agasalhado e parecia

vestido para sair para uma caminhada. Sentou na beirada da minha cama,

parecendo tão inquieto quanto eu devo ter parecido naquela primeira vez,

quando este quarto era dele.

— Talvez eu me case na primavera — contou ele.

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