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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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— Quero mostrar uma coisa — disse ele.

Seu escritório tinha um grande sofá de couro. Sofá do Oliver, pensei.

Então é aqui que ele senta para ler. Havia papéis espalhados pelo sofá e pelo

chão, a não ser por uma almofada no canto, que ficava sob uma luminária.

Luminária do Oliver. Eu me lembrei dos lençóis beirando o chão do seu

quarto em B.

— Reconhece isso? — perguntou ele.

Na parede estava o postal emoldurado do penhasco de Monet.

— Era meu, mas passou muito mais tempo com você do que comigo.

Nós éramos um do outro, mas tínhamos passado tanto tempo separados que

agora éramos de outras pessoas. Posseiros, nada mais que posseiros, eram os

verdadeiros requerentes de nossos corações.

— É uma longa história — falei.

— Eu sei. Quando mandei emoldurar vi as dedicatórias atrás, e é por isso que

também é possível ler o verso do cartão agora. Pensei várias vezes nesse tal

de Maynard. Pense em mim algum dia.

— Seu predecessor — falei para provocá-lo. — Não, não é nada disso. Para

quem você vai dar o postal um dia? — Eu esperava deixar que um dia um dos

meus filhos levasse pessoalmente quando fosse o hóspede do verão. Já

acrescentei a minha própria dedicatória… mas você não pode ver. Vai ficar

na cidade? — perguntou para mudar de assunto enquanto vestia o casaco.

— Sim. Uma noite. Vou encontrar umas pessoas na universidade e vou

embora.

Ele olhou para mim. Eu sabia que ele estava pensando naquela noite durante

as férias de fim de ano, e ele sabia que eu sabia.

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