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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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* * *

“Tristia” levou bem uns vinte minutos. Então vieram os aplausos. A palavra

que uma das garotas usou foi forte. Molto forte. O tucano papudo virou para

uma mulher que assentia a quase cada sílaba proferida pelo poeta e que agora

repetia Straordinario-fanstatico. O poeta desceu, pegou um copo d’água e

segurou a respiração por um tempo… para se livrar de uma crise forte de

soluço. Eu tinha pensado que os espasmos eram suspiros reprimidos. O poeta,

olhando em todos os bolsos de seu paletó sem achar nada, uniu o dedo

indicador ao médio e, fazendo um gesto na frente da boca, sinalizou ao dono

da livraria que queria fumar e se misturar às pessoas por alguns minutos.

S traordinario-fanstatico, que viu o sinal, imediatamente sacou a cigarreira.

— Stasera non dormo, não vou conseguir dormir esta noite, é o preço da

poesia — disse ela, culpando os poemas pelo que certamente seria uma

agitada noite de insônia.

Todos estavam suando, e a atmosfera de estufa, tanto dentro quanto fora da

livraria, tinha se tornado insuportavelmente úmida.

— Pelo amor de Deus, abra a porta — gritou o poeta para o dono da livraria.

— Estamos sufocando aqui.

O Sr. Venga pegou um pequeno calço de madeira, abriu a porta e prendeu-a

contra a parede.

— Melhor? — perguntou de modo atencioso.

— Não. Mas pelo menos agora sabemos que a porta está aberta.

Oliver olhou para mim querendo perguntar Você gostou? Dei de ombros,

como se guardasse a crítica para depois. Mas não estava sendo sincero; tinha

gostado muito.

Talvez estivesse mesmo gostando da noite. Tudo nela me animava.

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