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estava vermelho, e sabia que faria uma careta, embora quisesse que ele
continuasse me encarando mesmo que aquilo me deixasse envergonhado, e
queria continuar a encará-lo quando assumimos a posição que simulava uma
luta livre, seus ombros roçando meus joelhos. Como tínhamos avançado
desde aquela tarde em que tirei minha cueca e coloquei seu calção de banho e
pensei que aquilo seria o mais perto que seu corpo chegaria do meu. Agora
isso. Eu estava na cúspide de algo, mas também queria que durasse para
sempre, porque sabia que a partir dali não havia mais volta. Quando
aconteceu, aconteceu não como eu sonhei, mas com um grau de desconforto
que me obrigou a revelar mais de mim do que eu gostaria. Tive um impulso
de interrompê-lo e, quando ele percebeu, perguntou, mas eu não respondi, ou
não sabia o que responder, e uma eternidade pareceu passar entre minha
relutância em relação a tomar aquela decisão e o impulso dele de decidir por
mim. Deste momento em diante, pensei, deste momento em diante… tive,
como nunca antes, a nítida sensação de ter chegado a um lugar muito
estimado, de querer aquilo para sempre, de ser eu, eu, eu, eu e mais ninguém,
só eu, de encontrar em cada arrepio que percorria meus braços algo
completamente novo, mas nada estranho, como se aquilo fizesse parte de
mim a vida inteira, algo que eu tivesse perdido e ele tivesse me ajudado a
encontrar. O sonho estava certo… era como voltar para casa, como perguntar
Onde eu estive todo esse tempo? Que era outro jeito de perguntar Onde você
estava durante minha infância, Oliver? Que era ainda outro jeito de perguntar
O que é a vida sem isso? Motivo pelo qual, no fim das contas, fui eu, e não
ele, que deixou escapar, não uma, mas muitas, muitas vezes Você vai me
matar se parar, você vai me matar se parar, porque também era meu jeito de
unir o sonho e a fantasia, eu e ele, as palavras tão esperadas de sua boca para
a minha boca e de volta para a dele, trocando palavras de boca em boca, que
foi quando devo ter começado a proferir obscenidades que ele repetia depois
de mim, baixinho no início, até que disse: — Me chame pelo seu nome e eu
vou chamar você pelo meu.
Era algo que eu nunca tinha feito na vida e, assim que disse meu próprio
nome como se fosse dele, fui levado a um domínio que nunca tinha
compartilhado com ninguém, e que não compartilhei desde então.