You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
me sacado completamente diria aquilo.
— Se não depois, quando? Meu pai gostou.
— Se não depois, quando? Ecoava as famosas palavras de Hilel. Se não
agora, quando? Oliver tentou na mesma hora retirar sua observação
contundente.
— Eu com certeza tentaria de novo. E de novo.
Era a versão mais amena. Mas tente de novo depois era a versão velada de se
não depois, quando? Repeti aquela frase como se fosse um mantra profético
que revelava como ele vivia sua vida e como eu tentava viver a minha.
Repetindo o mantra que saíra de sua boca, talvez eu tropeçasse em alguma
passagem secreta ou verdade latente que até então tinha me escapado, sobre
mim, sobre a vida, sobre os outros, sobre minha relação com os outros.
Tente de novo depois eram as últimas palavras que eu dizia a mim mesmo
toda noite, quando jurava que faria alguma coisa para trazer Oliver para mais
perto de mim. Tente de novo depois significava não tenho coragem agora. As
coisas ainda não estavam no ponto. Onde eu encontraria a força e a coragem
para tentar de novo depois eu não sabia. Mas decidir fazer alguma coisa em
vez de esperar passivamente fez com que eu me sentisse como se já estivesse
fazendo algo, como se obtivesse lucro de um dinheiro que não investi, aliás,
que ainda nem tinha.
Mas eu também sabia que estava me protegendo atrás da ideia de tente de
novo depois, e que meses, estações, anos inteiros, uma vida passariam e eu
não teria nada além de tente de novo depois carimbado em todos os meus
dias. Tente de novo depois funcionava para pessoas como Oliver. Se não
depois, quando? era meu xibolete.
Se não depois, quando? E se ele tivesse me sacado completamente e
descoberto cada um dos meus segredos com aquelas quatro palavras
incisivas? Eu tinha que demonstrar minha total indiferença em relação a ele.
O que me fez entrar em parafuso foi conversar depois com Oliver algumas