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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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— É a coisa mais gentil que ouvi nos últimos meses… — disse ele com

sinceridade, como se tivesse tido uma revelação súbita, levando o que eu

tinha dito muito mais a sério do que eu imaginei que soaria.

Fiquei constrangido, desviei o olhar e finalmente murmurei a primeira coisa

que me veio à cabeça: — Gentil? — perguntei.

— É, gentil.

Eu não entendi o que gentileza tinha a ver com tudo aquilo. Ou talvez não

percebesse para onde tudo aquilo se encaminhava e preferi deixar para lá.

Silêncio de novo. Até a próxima vez que ele dissesse algo.

Como eu amava quando ele quebrava o silêncio entre nós para dizer alguma

coisa — qualquer coisa — ou perguntar o que eu achava de X ou se eu tinha

ouvido falar de Y. Ninguém em nossa casa pedia minha opinião sobre nada.

Se ele ainda não tinha percebido o motivo, logo perceberia; era questão de

tempo até que passasse a concordar com a visão de todos de que eu era o

bebê da família. Mas ali estava ele, na terceira semana conosco, me

perguntando se eu já tinha ouvido falar de Athanasius Kircher, Giuseppe

Belli e Paul Celan.

— Ouvi, sim.

— Sou quase uma década mais velho que você e até alguns dias atrás nunca

tinha ouvido falar de nenhum deles. Não entendo.

— Não há o que entender. Meu pai é professor universitário. Fomos criados

sem TV. Entendeu agora? — Volte para sua música, vai! — disse ele como

se tivesse enrolado uma toalha e jogado na minha cara.

Eu gostava até mesmo do modo como ele me dispensava.

Um dia, enquanto mudava o caderno de lugar na mesa, derrubei meu copo

sem querer. Caiu na grama. Não quebrou. Oliver estava perto, levantou,

pegou o copo e colocou-o não só na mesa, mas bem ao lado das minhas

páginas.

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