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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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conversando. Ele estava tomando sorvete e ela se agarrava ao braço livre dele

com as mãos. Quando se tornaram tão íntimos? A conversa parecia séria.

— O que está fazendo aqui? — disse ele ao me ver.

Oliver usava a ironia tanto para se proteger como para tentar esconder o fato

de que não nos falávamos mais. Golpe baixo, pensei.

— Dando uma volta.

— Já não passou da hora de você estar na cama? — Meu pai não tem disso

— rebati.

Chiara estava imersa em seus pensamentos. Evitava meu olhar.

Será que ele tinha contado sobre as coisas que eu dissera a respeito dela?

Parecia chateada. Estava incomodada com minha intrusão repentina no

mundinho deles? Lembrei do tom de voz que ela usara na manhã em que

explodiu com Mafalda. Um sorriso surgiu em seu rosto, estava prestes a dizer

algo cruel.

— Na casa deles nunca teve hora para dormir, nenhuma regra, nenhuma

supervisão, nada. Por isso ele é um menino tão comportado.

Não é óbvio? Não tem motivos para se rebelar.

— Isso é verdade? — Talvez — respondi, tentando minimizar a questão antes

que eles fossem longe demais. — Todos nos rebelamos de alguma forma.

— É mesmo? — perguntou ele.

— Dê um exemplo — desafiou Chiara.

— Você não entenderia.

— Ele lê Paul Celan — interrompeu Oliver, tentando mudar de assunto, mas

talvez também para me salvar e mostrar, sem deixar muito claro, que não

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