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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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hoje, agora, conhecer minha esposa, meus filhos. Por favor, por favor, por

favor.

— Eu adoraria… — Preciso deixar uma coisa no escritório e podemos ir. É

uma ótima caminhada até o estacionamento.

— Você não entendeu. Eu adoraria. Mas não posso.

O “não posso” não queria dizer que eu não estava livre para ir à casa dele,

mas que não seria capaz de fazê-lo.

Ele me olhou enquanto ainda guardava os papéis na pasta de couro.

— Você nunca me perdoou, não é? — Perdoar? Não havia o que perdoar.

Seja como for, tenho gratidão por tudo. Só guardei as coisas boas.

Eu ouvira as pessoas dizerem isso nos filmes. Pareciam acreditar.

— Então, por quê? — perguntou ele.

Saímos da sala de aula e fomos para o pátio, onde um longo e lânguido pôr

do sol, típico do outono na Costa Leste, lançava luminosas sombras

alaranjadas sobre as montanhas.

Como eu poderia explicar a ele, ou a mim mesmo, por que eu não podia ir à

sua casa conhecer sua família, embora cada pedaço do meu ser quisesse

muito fazer isso? A esposa de Oliver. Os filhos de Oliver.

Os animais de estimação de Oliver. O escritório, a mesa, os livros, o mundo,

a vida de Oliver. O que eu esperava? Um abraço, um aperto de mão, um olácompanheiro

superficial e, em seguida, o inevitável Até depois? A

possibilidade de conhecer a família dele de repente me assustou — real

demais, repentina demais, direta demais, suficientemente não ensaiada. Ao

longo dos anos, acomodei Oliver no passado permanente, meu amante maisque-perfeito,

coloquei-o no gelo, enchi-o de memórias e bolinhas de naftalina

como um ornamento caçado que confabulava com os fantasmas de todas as

minhas noites. Tirava o pó de vez em quando e o colocava de volta na

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