12.03.2020 Views

Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

tempo, quem tentava pegar a seção desejada do jornal do dia fazendo o

mínimo de barulho possível e acabava desistindo e procurando pela

programação do cinema sem se preocupar se ia me acordar ou não.

O medo nunca ia embora. Eu acordava com ele, sentia virar alegria ao ouvi-lo

tomar banho de manhã, sabendo que se juntaria a nós para o café, e a alegria

azedar quando, em vez de sentar-se conosco, ele passava apressado e ia direto

para o jardim trabalhar. Ao meio-dia, a agonia de esperar ouvi-lo dizer

qualquer coisa já era insuportável. Sabia que o sofá estaria esperando por

mim em uma ou duas horas. Eu me odiava por me sentir tão infeliz, tão

invisível, tão atingido, tão imaturo.

Diga alguma coisa, me toque, Oliver. Olhe para mim por tempo suficiente

para ver as lágrimas marejando meus olhos. Bata à minha porta à noite e veja

se eu já não a deixei aberta para você. Entre.

Sempre tem espaço para você na minha cama.

O que eu mais temia eram os dias em que não o via por longos períodos —

tardes inteiras e às vezes noites sem saber onde ele estava.

Às vezes, eu o via atravessando a piazzetta ou falando com pessoas que eu

não conhecia. Mas isso não contava, porque na piazzetta, onde as pessoas

costumavam se reunir perto da hora de ir embora, ele raramente olhava para

mim, só dava um aceno, que poderia não ser exatamente para mim, mais para

o meu pai, de quem eu calhava de ser filho.

Meus pais, principalmente meu pai, não poderiam estar mais felizes.

Oliver estava se saindo melhor do que a maioria dos hóspedes de verão.

Ele ajudava meu pai a organizar seus documentos, dava conta de grande parte

de sua correspondência estrangeira e seu livro claramente estava avançando.

O que ele fazia em sua vida particular ou com seu tempo livre só dizia

respeito a ele. Se a juventude se limitar ao trote, quem andará a galope? Era a

estranha máxima do meu pai. Na nossa casa, Oliver não tinha como errar.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!