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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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Os dois nos cumprimentaram. O jardineiro entregou a bicicleta a Oliver.

— Arrumei a roda ontem, deu trabalho. Também enchi os pneus.

O motorista não poderia ter ficado mais irritado.

— De agora em diante, eu conserto as rodas, você cuida dos tomates — disse

Manfredi, irritado.

Anchise deu um sorriso irônico. Oliver sorriu de volta.

Quando chegamos à alameda ladeada de ciprestes que levava à estrada

principal, perguntei a Oliver: — Ele não parece um fantasma? — Quem? —

Anchise.

— Não, por quê? Esses dias caí voltando para a casa e me machuquei feio.

Anchise insistiu em passar uma mistura caseira. Ele também consertou a

bicicleta para mim.

Mantendo uma das mãos no guidão, ele levantou a camisa e mostrou um

ferimento enorme do lado esquerdo do tronco.

— Continuo achando que parece um fantasma — disse, repetindo o veredito

da minha tia.

— É só uma alma perdida, na verdade.

Eu teria tocado, acariciado, amado aquele ferimento.

No caminho, notei que Oliver estava curtindo o passeio. Ele não estava com a

pressa habitual, não estava correndo, não subia as colinas com o ímpeto

atlético de sempre. Nem parecia com pressa para voltar a seu manuscrito,

para encontrar seus amigos na praia ou, como costumava acontecer, para me

abandonar. Talvez não tivesse nada melhor para fazer. Aquele era meu

momento no paraíso e, por mais jovem que fosse, eu sabia que não ia durar e

que devia ao menos aproveitá-lo pelo que significava, em vez de estragar

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