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que eu tinha a sensação de que logo cairia em uma armadilha? — Não...? —
respondi com cautela, sem perceber que a hesitação tinha feito com que meu
“não” soasse quase como uma pergunta.
— Tem certeza? Será que, por acaso, eu tinha convencido Oliver de que
estava interessado nela esse tempo todo? Olhei para ele como se estivesse
devolvendo o desafio.
— O que você está insinuando? — Eu sei que você gosta dela.
— Você não faz a menor ideia do que eu gosto — rebati. — A menor ideia.
Eu estava tentando parecer capcioso e misterioso, como se estivesse falando
de um domínio da experiência humana que alguém como ele jamais
conheceria. Mas só consegui parecer irritado e histérico.
Um leitor menos perspicaz da alma humana veria em minha insistente
negativa sinais de uma tentativa de acobertar uma confissão sobre Chiara.
Um observador mais perspicaz, no entanto, consideraria a indicação de uma
verdade completamente diferente: abra a porta por sua conta e risco —
acredite, você não quer ouvir isso. Talvez seja melhor você desistir agora,
enquanto ainda há tempo.
Mas eu também sabia que se ele demonstrasse qualquer sinal, por menor que
fosse, de que sabia a verdade, eu faria de tudo para deixá-lo à deriva
imediatamente. Se, no entanto, ele não suspeitasse de nada, minhas palavras
desorientadas o deixariam ilhado da mesma forma. No fim, eu ficaria mais
feliz se ele achasse que eu estava interessado em Chiara do que se ele
insistisse no assunto e eu acabasse tropeçando nas palavras. Sem saber o que
dizer, eu teria admitido coisas que eu não tinha planejado ou não sabia se
queria admitir. Sem saber o que dizer, eu teria ido aonde meu corpo desejava
muito antes do que com qualquer bon mot ensaiado por horas. Eu teria ficado
vermelho, e ainda mais vermelho por ter ficado vermelho, me atrapalhado
com as palavras e desmoronado… e aonde isso levaria? O que ele diria?
Melhor desmoronar agora, pensei, do que viver mais um dia fazendo
malabarismos com minhas decisões inverossímeis de tentar de novo depois.