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Me Chame Pelo Seu Nome - André Aciman

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— Preciso cuidar disso para que não infeccione — disse ele.

— Vamos parar na farmácia no caminho.

Ele não respondeu. Mas era a coisa mais sensata que poderíamos ter dito.

Permitia que o mundo real se intrometesse em nossas vidas — Anchise, a

bicicleta remendada, a briga por causa dos tomates, a partitura deixada de

qualquer jeito sob o copo de limonada, tudo aquilo parecia tão distante.

Enquanto nos distanciávamos do meu lugar preferido, vimos duas vans de

turistas indo em direção a N. Devia ser quase meio-dia.

— Nunca mais vamos conversar — falei enquanto descíamos a ladeira

infinita, o vento em nossos cabelos.

— Não diga isso.

— Eu tenho certeza. Vamos falar do dia, do sol, do vento. Só isso. E o

engraçado é que eu acho que aguento.

— Rimou — disse ele.

Eu amava aquela irreverência.

Duas horas depois, durante o almoço, tive todas as provas necessárias de que

não aguentaria.

Antes da sobremesa, enquanto Mafalda tirava os pratos e todos estavam

envolvidos em uma conversa sobre Jacopone da Todi, senti um pé

casualmente roçar o meu.

Pensei que, no penhasco, eu devia ter aproveitado a chance de sentir se a pele

do pé de Oliver era tão macia quanto eu imaginava. Agora aquilo era o

máximo que eu conseguiria.

Talvez tenha sido o meu pé que tocou o dele. Que recuou, não no mesmo

instante, mas rápido o suficiente, como se tivesse esperado conscientemente o

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