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— Você é jovem demais para entender o que estou dizendo… mas um dia,
logo, espero que nos falemos novamente, e então veremos se serei mulher o
bastante para retirar a palavra que usei esta noite.
Scherzavo, eu só estava brincando.
Um beijo na bochecha.
Que mundo era aquele. Ela tinha mais que o dobro da minha idade, mas eu
poderia ter feito amor com ela naquele minuto e chorado com ela.
— Nós não vamos fazer um brinde? — gritou alguém de outro canto da
livraria.
Havia uma confusão de sons.
Então aconteceu. Uma mão no meu ombro. Era de Amanda. E outra na minha
cintura. Ah, eu conhecia tão bem aquela outra mão. Que ela não me largue
esta noite. Eu idolatro cada dedo daquela mão, cada unha que você rói em
cada dedo, meu querido, querido Oliver… não me largue ainda, pois preciso
dessa mão aí. Um calafrio percorreu minhas costas.
— E eu sou a Ada — disse alguém quase como se pedisse desculpas, como
se soubesse que demorou demais para vir até o nosso lado da livraria e agora
estivesse compensando pela falha fazendo com que todos ali soubessem que
ela era a Ada de quem certamente estavam falando.
Havia algo estridente e jovial em sua voz, ou no modo como ela demorava
para dizer Ada, ou no fato de que ela parecia fazer pouco caso de tudo,
lançamentos de livros, apresentações, amizades, e de repente me disse que,
sem dúvida, naquela noite eu tinha entrado em um mundo encantado.
Eu nunca havia andado por aquele mundo. Mas o amei. E amaria ainda mais
quando aprendesse a falar sua língua, pois era minha língua, uma forma de
abordagem na qual os desejos mais profundos são proferidos como gracejos,
não porque é mais seguro colocar um sorriso naquilo que tememos que possa
chocar, mas porque as inflexões do desejo, de todo o desejo, naquele mundo