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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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204<br />

Recepção musical como mimesis<br />

ÂNGELO MARTINGO<br />

Sem prejuízo das difi culdades meto<strong>do</strong>lógicas na teorização da emoção (cf.<br />

Juslin & Zentner, 2002), têm si<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s no <strong>do</strong>mínio da<br />

percepção musical em que são reporta<strong>do</strong>s casos de experiências intensas<br />

(peak experiences), quer através da análise de relatos <strong>do</strong>s sujeitos (Gabrielson,<br />

2001, 2006; Gabrielsson & Lindström Wik, 1995, 2000, 2003; Hong,<br />

2006; Lamont, 2009; Sloboda, 1991), quer através de medições laboratoriais<br />

(Blood & Zatorre, 2001; Goldstein, 1980; Grewe et al, 2009; Lowis, 1998,<br />

2002; Menon & Levitin, 2005; Rickard 2004).<br />

A título de exemplo, Sloboda (1991: 114), a partir de descrições de<br />

intérpretes profi ssionais, ama<strong>do</strong>res, e ouvintes, dá conta de respostas físicas<br />

involuntárias na generalidade <strong>do</strong>s inquiri<strong>do</strong>s (e. g., riso, arrepios, lágrimas,<br />

e alteração <strong>do</strong> ritmo cardíaco), identifi can<strong>do</strong> ainda uma relação entre<br />

tais reacções e elementos <strong>do</strong> texto musical (e. g., appogiaturas e sequências<br />

melódicas e harmónicas). No mesmo senti<strong>do</strong>, Gabrielsson (2001; 2006) e<br />

Gabrielsson & Lindström Wik (1995; 2000; 2003), num signifi cativo e continua<strong>do</strong><br />

estu<strong>do</strong> com uma extensa amostra, e envolven<strong>do</strong> música erudita e<br />

não erudita, reportam, a partir das descrições <strong>do</strong>s participantes, sensações<br />

sinestésicas, consciência alterada <strong>do</strong> espaço, <strong>do</strong> tempo, e <strong>do</strong> corpo, bem<br />

como de emoções intensas positivas e negativas (como o pânico, frustração)<br />

(Gabrielsson 2000: 103 -5). A investigação existente não é concludente<br />

quanto à relação entre literacia musical e emoções intensas, embora Lamont<br />

(2009: <strong>25</strong>3ss) sugira que ocorrerem estas maioritariamente na condição de<br />

ouvinte, em acontecimentos públicos, e com música não erudita.<br />

Remeter -nos -iam estes resulta<strong>do</strong>s para uma recepção centrada nos senti<strong>do</strong>s<br />

– literalmente, uma aisthesis musical. Não sem propriedade, já que, a<br />

partir de uma meto<strong>do</strong>logia empírica, vários da<strong>do</strong>s apontam para a similaridade<br />

desta com os mecanismos fi siológicos em sensações não relacionadas<br />

com a música. Em particular, Blood & Zatorre (2001, in Grewe et al, 2009:<br />

353) atestam que os circuitos neuronais activa<strong>do</strong>s nas reacções cutâneas à<br />

música são também aqueles activa<strong>do</strong>s por actividades de prazer intenso e,<br />

no mesmo senti<strong>do</strong>, Goldstein (1980, in Menon & Levitin, 2005: 175) fazem<br />

notar que a naxalona é a substância inibi<strong>do</strong>ra de ambos.<br />

Num outro âmbito, é de realçar o paralelo entre as experiências intensas<br />

nos <strong>do</strong>mínios musical e religioso, sen<strong>do</strong> que é precisamente neste registo<br />

que Maslow (1964) inaugura a investigação na área, traçan<strong>do</strong> na década de<br />

sessenta um sistemático quadro descritivo <strong>do</strong> fenómeno em que são identifi<br />

ca<strong>do</strong>s como elementos centrais o esta<strong>do</strong> passivo <strong>do</strong> sujeito, bem como a<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 204 05-01-2012 09:38:30

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