Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
244<br />
JOSÉ COLEN<br />
rias nos <strong>do</strong>mínios a que se pretendem aplicar. Por exemplo, manifestações<br />
e comícios políticos são consideradas irracionais, visto que enfermam <strong>do</strong><br />
problema comum <strong>do</strong> free riding no que toca ao fornecimento de bens públicos<br />
(Idem, 44 -46). [9] O problema, segun<strong>do</strong> estes autores, é que estas conclusões,<br />
se não têm confi rmação empírica, seria porque se baseiam numa<br />
meto<strong>do</strong>logia incorrecta. Mesmo quan<strong>do</strong> de tempos a tempos acertam, os<br />
sucessores de Buchanan e Tullock pouco mais fariam que redescrever os<br />
conhecimentos pré -existentes na terminologia da rational choice (Idem, 6).<br />
V. Conclusão: “Na direcção de uma matemática da política”<br />
Embora as objecções que apresentámos às teses da ‘escolha pública’ que<br />
nasceram com Th e Calculus of Consent não estejam em esta<strong>do</strong> quimicamente<br />
puro, podem organizar -se essencialmente em quatro géneros diferentes:<br />
a crítica <strong>do</strong> pressuposto <strong>do</strong> homem racional e egoísta, as críticas à<br />
meto<strong>do</strong>logia, a crítica da teoria <strong>do</strong>s by -produtcs e a consequente eliminação<br />
<strong>do</strong> conceito de interesse público e, enfi m, a crítica “institucionalista”<br />
à hiper -simplifi cação. É difícil não reconhecer força a alguns destes argumentos.<br />
Mas até que ponto estas críticas são relevantes em relação ao poder<br />
explicativo <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong>s mecanismos democráticos na defi nição<br />
de políticas públicas? A questão deve ser abordada num trabalho de maior<br />
fôlego.<br />
É possível que um dia venha a existir uma teoria matemática <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />
ou da ordem pública, como existe uma teoria <strong>do</strong> equilíbrio económico geral<br />
desde Walras. [10] E, embora Tullock não tenha encontra<strong>do</strong> o Santo Graal<br />
(Tullock, 1972: V) que procurava quan<strong>do</strong> a tentou formular, podemos fazer<br />
uma ideia de como será. No tempo <strong>do</strong>s fi siocratas o mistério era como<br />
podiam os 700.000 habitantes de Paris encontrar to<strong>do</strong>s os dias com que se<br />
alimentar e vestir, agin<strong>do</strong> livremente, sem passar palavra aos milhões de<br />
produtores e intermediários que para isso contribuíam e sem obedecer a<br />
nenhum plano pré -estabeleci<strong>do</strong>. Mistério que se resolve no equilíbrio da<br />
oferta e da procura, no modelo de um vasto merca<strong>do</strong> – maior que qualquer<br />
das verdadeiras feiras e lojas – que se traduz num sistema de equações.<br />
O mistério, na política, seria a obediência <strong>do</strong>s conjuntos humanos<br />
a regras e pessoas. Podemos imaginar uma matemática política, na qual a<br />
9 Note -se que estas críticas seguem em parte as linhas ideológicas <strong>do</strong>s seus autores. Para uma<br />
resposta a estas objecções ver a síntese de Mueller (Mueller, 2005: 657 -674).<br />
10 Seguimos aqui de perto Paul Veyne (Veyne, 1978: 290 -292).<br />
<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 244 05-01-2012 09:38:33