04.07.2013 Views

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

260<br />

3. Câmara: a <strong>do</strong>utrina da transparência<br />

VÍTOR MOURA<br />

“Tous les arts sont fondés sur la présence de l’homme;<br />

dans la seule photographie nous jouissons de son absence. »<br />

André Bazin<br />

A base fotográfi ca <strong>do</strong> cinema conduziu muitos autores a acreditar que o<br />

cinema não representa personagens fi ccionais, antes apresentan<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong><br />

real de actores, adereços e cenários. Entre os mais eminentes representantes<br />

contemporâneos desta teoria, encontramos Kendall Walton e Roger Scruton.<br />

Para Walton, “as fotografi as são transparentes. Vemos o mun<strong>do</strong> através<br />

delas”. [17] Ver uma fotografi a de X é ver X e isto de uma forma absolutamente<br />

literal, ou seja, não temos nem a “impressão” (ou ilusão) de que estamos a<br />

ver X nem a fotografi a funciona como um duplo ou um procura<strong>do</strong>r de x. E<br />

é este funcionamento literal da fotografi a que a distingue da pintura. Para<br />

explicar a diferença entre a apresentação fotográfi ca e a representação pictórica,<br />

Walton recorre ao conceito de dependência contrafactual. Há uma<br />

relação de dependência contrafactual natural entre a fotografi a e o objecto<br />

fotografa<strong>do</strong>: a fotografi a de X exibe as propriedades visíveis de X de tal<br />

forma que, se as propriedades visíveis de X fossem diferentes, a imagem<br />

fotográfi ca também seria diferente. É claro que isto também acontece, em<br />

certo senti<strong>do</strong>, no caso da pintura. Mas, neste caso, a dependência contrafactual<br />

entre X e o retrato de X é intencional, ou seja, é mediada pelas crenças<br />

e intenções <strong>do</strong> artista, depende daquilo que o pintor acredita ter visto em X.<br />

O carácter “mecânico” da reprodução fotográfi ca faz com que não seja relevante<br />

o que o fotógrafo acha que está diante da sua lente. E isto vale também<br />

para o caso da observação simples de uma dada cena. Um fi lme perfeito<br />

como Blow Up, de Antonioni, é uma exploração da ideia de que é possível<br />

descobrir coisas inesperadas nas fotografi as (ou que as fotografi as podem<br />

ser prova de algo inespera<strong>do</strong>), mas não nas pinturas. Walton passa então a<br />

usar a dependência contrafactual natural como teste para a transparência<br />

(ver uma fotografi a de X é ver X).<br />

Mas será que basear a reprodução numa dependência contrafactual<br />

natural será sempre necessário ou sufi ciente para garantir a sua transparência<br />

ou para podermos afi rmar que “percepcionamos” X sempre que<br />

vemos uma tal reprodução? Comecemos pela sua necessidade. Para tes-<br />

17 Walton, 1984:22.<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 260 05-01-2012 09:38:34

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!