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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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<strong>25</strong>8<br />

VÍTOR MOURA<br />

fílmica (a vulgarização <strong>do</strong> cinema sonoro, colori<strong>do</strong> ou tridimensional,<br />

por exemplo) irá redundar numa degradação da experiência estética <strong>do</strong><br />

cinema, que assenta na aceitação de uma ilusão parcial e numa atenção<br />

ao trabalho sobre as capacidades formais <strong>do</strong> meio cinematográfi co. É,<br />

com efeito, o trabalho sobre as potencialidades / limitações <strong>do</strong> meio que<br />

irá fazer com que o artista conduza a atenção <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r para as qualidades<br />

da forma, fazen<strong>do</strong> -o a<strong>do</strong>ptar um mo<strong>do</strong> de observação atento aos<br />

vários extractos que se podem ver no fi lme e com um particular interesse<br />

pelas suas propriedades confi guracionais. [13] Ao envolver -se na experiência<br />

<strong>do</strong> cinema, o especta<strong>do</strong>r acaba por entregar -se a uma atitude mental que<br />

é, em certa medida, contra -natura, resulta<strong>do</strong>, designadamente, da redução<br />

da tri à bidimensionalidade na apresentação <strong>do</strong>s objectos. Esta redução é<br />

bem o exemplo <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como uma necessidade e uma aparente limitação<br />

acaba por revelar -se uma “virtude” porque desta atenção à forma resulta<br />

que, quan<strong>do</strong> o especta<strong>do</strong>r vê algo familiar como totalmente novo, acede a<br />

uma “verdadeira observação” com características peculiares:<br />

1) Ao reproduzir o objecto de um ângulo inespera<strong>do</strong>, aumenta -se o interesse<br />

<strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r e há como que um incremento da realidade <strong>do</strong> objecto.<br />

2) Chama -se a atenção não apenas para o objecto ôntico mas também para as<br />

suas qualidades formais.<br />

3) Ao focar -se sobre as qualidades formais <strong>do</strong> objecto, o especta<strong>do</strong>r começa<br />

a considerar se o objecto não terá si<strong>do</strong> escolhi<strong>do</strong> pelo facto de ser particularmente<br />

característico e se não funciona como um exemplo representativo<br />

<strong>do</strong> seu género, um arquétipo ou um protótipo. [14]<br />

4) Ao mudar a perspectiva comum sobre o objecto, está -se a interpretar o<br />

objecto, deixan<strong>do</strong> -o fi car, em si mesmo, inaltera<strong>do</strong>.<br />

Uma vez que Arnheim considera que a arte começa onde acaba a<br />

mera reprodução mecânica, substituída por uma atenção centrada sobre<br />

os aspectos formais [15] , entende -se melhor o enfoque coloca<strong>do</strong> numa com-<br />

13 “Representations have both representational and confi gurational properties. Th e former are a<br />

matter of what the representation represents, the latter any other property. (…) Tiered seeing-<br />

-in requires one to see in the picture the confi gurational properties of some representation, and<br />

collapsed seeing -in requires one not to see such properties.” (Hopkins, 2008: 151)<br />

14 O que talvez explique porque o “product placing” é tão utiliza<strong>do</strong> no cinema comercial. Vemos o<br />

telemóvel da marca X no fi lme Matrix e é como se tivéssemos acesso ao arquétipo <strong>do</strong> telemóvel,<br />

aumentan<strong>do</strong> o desejo consumista.<br />

15 “Not until fi lm began to become an art was the interest moved from mere subject matter to<br />

aspects of form. (…) Art begins where mechanical reproduction leaves off , where the conditions<br />

of representation serve in some way to mold the object.” (Arnheim, 1933: 57).<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> <strong>25</strong>8 05-01-2012 09:38:33

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