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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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VÍTOR MOURA<br />

podemos explicar a cor reduzin<strong>do</strong> -a a uma função das suas partículas<br />

subatómicas; mas a cor tem qualidades que nenhum <strong>do</strong>s seus constituintes<br />

possui. É um facto que a imagem no ecrã é uma imagem sustentada pelo<br />

impacto contínuo da luz na superfície <strong>do</strong> ecrã, mas nenhuma onda luminosa<br />

particular é mais <strong>do</strong> que em parte constitutiva dela.<br />

Portanto, o critério proposto por Currie para estabelecer a identidade das<br />

imagens cinemáticas através <strong>do</strong> tempo assenta na sua relação com os esta<strong>do</strong>s<br />

mentais <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r. A identidade das imagens é um conceito dependente-<br />

-da -resposta, porque as questões sobre a sua identifi cação ao longo <strong>do</strong> tempo<br />

são respondidas por apelo aos factos sobre as reacções psicológicas <strong>do</strong>s especta<strong>do</strong>res<br />

e é este recurso constante à resposta <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r que serve a Currie<br />

para afastar, paulatinamente, a ideia segun<strong>do</strong> a qual a melhor maneira de nos<br />

referirmos à imagem em movimento será em termos de ilusão.<br />

Podemos notar ainda que há algo de bizarro em aplicar o termo “ilusão”<br />

para caracterizar a experiência <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r de imagens em movimento.<br />

A possibilidade de haver erro ou ilusão é, ela própria, um critério<br />

de atribuição de realismo metafísico às coisas, ou seja, só podemos falar<br />

de “coisas reais”, metafi sicamente falan<strong>do</strong>, se existir a possibilidade de distinguir<br />

entre o que é “ilusão” e o que é “realidade”. Se for possível estarmos<br />

engana<strong>do</strong>s sobre algo, mesmo que em circunstâncias epistémicas ideais,<br />

então esse algo pertence ao <strong>do</strong>mínio da realidade metafísica. Contu<strong>do</strong>, o<br />

tipo de conceitos dependentes -da -resposta a que Currie se refere não é<br />

passível desta falibilidade radical: se um observa<strong>do</strong>r comum, em situações<br />

normais, vê algo que é vermelho, então esse objecto é vermelho, e se um<br />

observa<strong>do</strong>r comum, num cinema escuro, acha que a imagem cinemática<br />

se move, então ela move -se mesmo. A impossibilidade <strong>do</strong> erro pode ser<br />

motivo para negarmos a realidade metafísica <strong>do</strong> movimento, mas onde ela<br />

existe, não podemos falar de ilusão.<br />

Finalmente, o adepto <strong>do</strong> Ilusionismo pode ainda defender que a experiência<br />

cinemática é comparável ao tipo de ilusão que encontramos, por<br />

exemplo, nas setas Müller -Lyre.<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 268 05-01-2012 09:38:34

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