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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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PODE CALCULAR -SE O CONSENTIMENTO? THE CALCULUS OF CONSENT AOS CINQUENTA ANOS<br />

O pressuposto individualista: o homo oeconomicus na esfera pública<br />

237<br />

O modelo tem um outro pressuposto: que o comportamento <strong>do</strong>s agentes<br />

seja racional e interesseiro. Tal como acontece de mo<strong>do</strong> geral nos estu<strong>do</strong>s<br />

da política com os méto<strong>do</strong>s da economia, esta “simplifi cação é necessária<br />

para a previsibilidade <strong>do</strong> comportamento” (Downs, 1957: 4). O homem<br />

racional é aqui descrito como tecnicamente efi ciente, aquele que faz a utilização<br />

<strong>do</strong> mínimo input para o máximo output, isto é, racionalidade quanto<br />

aos meios e não quanto aos fi ns. O que não implica reduzir o agente político<br />

a um ser puramente lógico, desprovi<strong>do</strong> de emoções ou preconceitos. Basta,<br />

basicamente, assumir as condições formuladas por Arrow: o homem racional<br />

é o que 1) é capaz de tomar uma decisão quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong> com alternativas;<br />

2) é capaz de graduar a sua preferência face a essas alternativas; 3)<br />

as suas preferências são transitivas; 4) escolhe sempre a primeira preferência,<br />

5) toma sempre as mesmas decisões, isto é, não decide aleatoriamente<br />

(Arrow, 1951: 7, Downs, 1957: 6). Da<strong>do</strong>s estes pressupostos, se o teórico<br />

conhece os fi ns de um decisor, pode fazer previsões, que comportam <strong>do</strong>is<br />

momentos: primeiro, realiza o cálculo sobre a forma mais razoável de atingir<br />

esses fi ns e, em segun<strong>do</strong> lugar, assume que esse é o cálculo feito pelo<br />

decisor, pressupon<strong>do</strong> que este é igualmente racional e preocupa<strong>do</strong> com o<br />

seu interesse próprio.<br />

Th e calculus of consent inclui até uma apologia da consideração de<br />

uma motivação interesseira baseada na ‘escassez moral’ da virtude. Mesmo<br />

assim, esta obra introduz uma explicitação ligeiramente diferente <strong>do</strong> pressuposto<br />

<strong>do</strong> interesse próprio, no que toca à aplicação <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s da análise<br />

económica à política. A investigação da participação política implica<br />

“algumas presunções sobre a motivação individual e o comportamento<br />

individual no social”, mas essas motivações não têm que ser as <strong>do</strong> axioma<br />

<strong>do</strong> indivíduo egoísta. Segun<strong>do</strong> Tullock, a participação individual nas escolhas<br />

públicas não implica “nenhuma motivação estreitamente he<strong>do</strong>nística<br />

ou de interesse próprio (self interest)”. Afi rma -se, pelo contrário, que “o<br />

indivíduo representativo nos nossos modelos pode ser egoísta ou altruísta<br />

ou qualquer combinação intermédia” (Buchanan/Tullock, 1967: 4). Mas<br />

embora defenden<strong>do</strong> uma certa modéstia da ciência económica (Idem, 5), os<br />

autores reconhecem que são necessários pressupostos mais restritivos para<br />

formular hipóteses sobre os resulta<strong>do</strong>s. Uma dessas hipóteses é justamente<br />

a de que o esforço por restringir as paixões de acor<strong>do</strong> com princípios éticos<br />

ou morais, afastan<strong>do</strong> -se da simples perseguição <strong>do</strong> interesse próprio, é em<br />

si mesmo custoso e escasso ou seja “económico” (Idem, 27). E reconhecem<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 237 05-01-2012 09:38:32

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