Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
PODE CALCULAR -SE O CONSENTIMENTO? THE CALCULUS OF CONSENT AOS CINQUENTA ANOS<br />
243<br />
aplicações às instituições políticas. Esta crítica distancia -se da investigação<br />
anterior em duas dimensões. Numa vertente negativa afi rmam que a política<br />
tem lugar num contexto, e a ‘escolha racional’, na sua busca científi ca,<br />
tinha suprimi<strong>do</strong> os detalhes organizacionais, modelan<strong>do</strong> o comportamento<br />
racional no mais espartano e esquemático <strong>do</strong>s desenhos institucionais. Na<br />
dimensão positiva, o neo -institucionalismo procura explicar os resulta<strong>do</strong>s<br />
da participação política, não apenas com base nas preferências <strong>do</strong>s agentes,<br />
e num comportamento optimiza<strong>do</strong>, mas com base nas próprias regras <strong>do</strong><br />
jogo político. Kenneth Shepsle, por exemplo, numa avaliação <strong>do</strong> ‘esta<strong>do</strong> da<br />
questão’, escrita em 1989, que serve como uma luva a Th e calculus of consent<br />
aponta às abordagens anteriores os seguintes vícios: a) são alarmantes<br />
algumas inferências feitas pela social choice sobre os processos políticos<br />
“(especialmente as suas alegações da incoerência e instabilidade) com base<br />
numa estilização extremamente espartana <strong>do</strong> contexto político” (Shepsle,<br />
1989: 136); b) parece inconcebível que políticos profi ssionais gastem tempos<br />
indefi ni<strong>do</strong>s sobre questões processuais e de estrutura, se estas não são<br />
senão minúcias; c) na linguagem da teoria <strong>do</strong>s jogos, o equilíbrio é nuclear<br />
(core), ora nas extensões da impossibilidade de Arrow, esse núcleo estava<br />
vazio e qualquer equilíbrio é sempre temporário, tu<strong>do</strong> é fl uxo, mas na realidade<br />
são patentes as regularidades empíricas e, poderíamos acrescentar, a<br />
duração das instituições; d) a sequência das acções na interacção e a ‘identidade’<br />
<strong>do</strong>s indivíduos é importante.<br />
Mais recentemente, a própria abordagem económica da política viu<br />
questionadas algumas das principais conclusões. Entre outras previsões<br />
contestadas estão a própria instabilidade cíclica (Arrow, 1951), os modelos<br />
espaciais da política (Hoteling ou Downs, 1957) e ainda a ideia de que os<br />
indivíduos não contribuem livremente para a provisão de bens públicos<br />
(Olson, 1971). Green e Saphiro, com efeito, em 1994 examinaram uma vasta<br />
pesquisa empírica e, segun<strong>do</strong> estes autores, estas e outras teses, não confi rmadas,<br />
derivam de diversas “patologias meto<strong>do</strong>lógicas” (Green/Saphiro,<br />
1994: 33) fundamentais, que se podem enunciar como: a) “teorização post<br />
hoc” (Idem, 34 -38), isto é, quan<strong>do</strong> as teorias são confrontadas com da<strong>do</strong>s<br />
empíricos que não são compatíveis com as previsões <strong>do</strong> modelo, os estudiosos<br />
acrescentam um pressuposto auxiliar que salva a teoria; b) a formulação<br />
de teorias não verifi cáveis: “aqueles que procuram retirar proposições testáveis<br />
<strong>do</strong>s modelos da rational choice verifi cam com frequência que (...) estas<br />
estão construídas de tal mo<strong>do</strong> que fi quem isoladas de encontros com os<br />
da<strong>do</strong>s” (Idem, 38); c) uma selecção enviesada <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, pois os da<strong>do</strong>s que<br />
se buscam visam essencialmente confi rmar as teorias; d) restrições arbitrá-<br />
<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 243 05-01-2012 09:38:32