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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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LUZES, CÂMARA OU ACÇÃO? TRÊS ONTOLOGIAS PARA A IMAGEM EM MOVIMENTO<br />

4)<br />

5)<br />

<strong>25</strong>7<br />

Delimitação da imagem e distância a partir <strong>do</strong> objecto. As sacadas visuais<br />

inconscientes permitem absorver o conteú<strong>do</strong> de to<strong>do</strong> um quarto como se<br />

através de um só relance. Mas tal não acontece com o cinema ou a fotografi<br />

a. As limitações da fotografi a são sentidas imediatamente. Tal restrição<br />

(juntamente com a falta da força da gravidade) explica porque é muito<br />

difícil reproduzir inteligivelmente numa fotografi a a orientação espacial<br />

da cena retratada. Uma montanha fotografada de baixo ou um lance de<br />

escadas fotografa<strong>do</strong> de cima não dão impressão de altura ou de profundidade.<br />

Representar fotografi camente, por exemplo, algo ascendente ou<br />

descendente, como uma montanha ou um lance de escadas, é muito difícil<br />

a não ser que o nível <strong>do</strong> chão seja mostra<strong>do</strong> como referência. Do mesmo<br />

mo<strong>do</strong>, tem de haver padrões de comparação para mostrar o tamanho de<br />

algo. E há que contar também com a distância a que se senta o especta<strong>do</strong>r<br />

na sala de cinema: é impossível exibir um fi lme de mo<strong>do</strong> a que cada especta<strong>do</strong>r<br />

o veja na sua correcta dimensão.<br />

Ausência <strong>do</strong> contínuo espácio -temporal. O cinema pode tomar mais liberdades<br />

com o espaço ou o tempo <strong>do</strong> que, por exemplo, o teatro. Mais <strong>do</strong><br />

que o teatro, ele proporciona uma ilusão parcial: até um certo ponto, ele<br />

causa uma impressão de vida real mas sempre manten<strong>do</strong> um pé no irreal,<br />

devi<strong>do</strong> à ausência de cor, à falta de tridimensionalidade e às limitações <strong>do</strong><br />

ecrã. O cinema promove, simultaneamente, o efeito de um acontecimento<br />

real e de uma pintura. Se o cinema proporcionasse uma forte impressão<br />

de verosimilhança espacial ou implicasse um fl uxo temporal linear, por<br />

exemplo, a montagem seria impossível.<br />

Arnheim gosta de insistir nas aparentes limitações realistas <strong>do</strong> cinema<br />

porque a experiência da imagem em movimento está, em larga medida,<br />

assente num para<strong>do</strong>xo: é o irrealismo parcial da imagem fílmica que facilita<br />

a sua assimilação pelo especta<strong>do</strong>r, evitan<strong>do</strong> que este estranhe, por exemplo,<br />

um jogo de câmara mais audaz ou uma montagem mais elíptica. Para<br />

ser convincente, uma ilusão não precisa de ser completa em to<strong>do</strong> o detalhe<br />

porque, na realidade, os traços fundamentais já nos satisfazem. [12] Mais<br />

ainda: parece claro que, para Arnheim, um reforço da “verosimilhança”<br />

12 A capacidade <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r normalizar aquilo que vê, sen<strong>do</strong> capaz de retirar uma unidade de<br />

senti<strong>do</strong> a partir da informação mais ou menos incompleta disponibilizada pelo fi lme é, no fun<strong>do</strong>,<br />

uma capacidade comum, que utilizamos quotidianamente. Partilhan<strong>do</strong> esta mesma tese, Francis<br />

Sparshott compara a experiência <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r de cinema com o mo<strong>do</strong> como reconstruímos permanentemente<br />

a realidade a partir de relatos cheios de “pistas e alusões” insatisfatórias: “Perhaps<br />

the character of fi lm is only that of our ordinary sources of information transposed into a single<br />

medium, with all the distortions (…) and subjective interpretations transformed into properties<br />

of the moving image. Our ability not only to follow fi lms but to live imaginatively in their worlds<br />

would then be no more than the realization in this novel (…) fi eld of our general capacity to live<br />

in a world largely reconstructed from unsatisfactory hearsay.” (Sparshott, 1971: 121).<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> <strong>25</strong>7 05-01-2012 09:38:33

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