Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
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VÍTOR MOURA<br />
que o cinema vive de uma ilusão visual se pode partir para a conclusão de<br />
que tal proposta difunde a ideia de que o cinema seria, fundamentalmente,<br />
um mecanismo gera<strong>do</strong>r de ideologia e mistifi cação. [6]<br />
O Ilusionismo Parcial de Ru<strong>do</strong>lf Arnheim surge, neste contexto, como<br />
uma proposta muito particular e que merece um tratamento mais detalha<strong>do</strong>.<br />
O cinema continua a assentar numa proposta de verosimilhança mas<br />
o mo<strong>do</strong> como esta é proporcionada é mais complexo <strong>do</strong> que poderia fazer<br />
crer a simples a<strong>do</strong>pção de um Ilusionismo integral.<br />
2.1. O ilusionismo parcial de Arnheim<br />
Ainda na Alemanha, Ru<strong>do</strong>lf Arnheim começou por interessar -se pela<br />
Materialtheorie, muito em voga no espaço académico germanófono entre<br />
as décadas de 1920 e 1930, corresponden<strong>do</strong> àquilo a que Noël Carroll chamou<br />
o “essencialismo <strong>do</strong> meio” [7] em estética. Este género de teorias pretende<br />
que cada forma de arte se caracteriza, desde logo, por possuir um<br />
meio expressivo, ou seja, um suporte material distinto, que a distingue das<br />
outras formas de arte: a imagem em movimento no ecrã, a tinta sobre a<br />
tela, os sons, as palavras, os comportamentos no teatro, etc. Descrever o<br />
meio permitiria não só descrever a forma de arte a que ele dá origem como<br />
também identifi car aquele que deve ser o telos de cada forma de arte, isto é,<br />
a um tempo, defi nir as suas condições de possibilidade e o seu destino estilístico.<br />
A tarefa <strong>do</strong> artista seria, então, a de desenvolver estilisticamente as<br />
capacidades expressivas inerentes ao meio sobre o qual trabalha. Isto suporia<br />
a possibilidade de prescrever a evolução natural de cada forma de arte<br />
mas também obter a capacidade de explicar porque algumas obras falham<br />
e outras são bem -sucedidas, mostran<strong>do</strong> como por detrás <strong>do</strong> seu sucesso ou<br />
insucesso está uma maior ou menor capacidade de fazer o que é dita<strong>do</strong> pelo<br />
meio, tal como o fez Lessing, quan<strong>do</strong>, no seu célebre Laokoön, reprovava a<br />
tentativa de imitar a hiperactividade na escultura. Algo de semelhante era<br />
defendi<strong>do</strong> por A<strong>do</strong>lf Loos, quan<strong>do</strong> escrevia que “[t]o<strong>do</strong> e qualquer material<br />
possui a sua própria linguagem de formas, e nenhum material pode<br />
invocar para si próprio as formas de outro material. Isto porque as formas<br />
se constituíram a partir da aplicabilidade e <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s de produção <strong>do</strong>s<br />
materiais”. [8]<br />
6 Cf. a recensão de Stephen Prince a Image and Mind, in Film Quarterly, vol. 51, nº1, 1997.<br />
7 Cf. Carroll 1996.<br />
8 Loos, 1898.<br />
<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> <strong>25</strong>4 05-01-2012 09:38:33