Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
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JOSÉ COLEN<br />
que a respectiva “abordagem é paralela na sua concentração sobre, e nas<br />
assunções acerca da motivação individual” à da motivação <strong>do</strong> homem económico<br />
no merca<strong>do</strong>, que se supõe movi<strong>do</strong> pelo lucro (Idem, 8).<br />
III. Proposições testáveis e pesquisa empírica<br />
A teoria <strong>do</strong> Cálculo <strong>do</strong> consentimento termina em proposições testáveis,<br />
embora não digam respeito à situação <strong>do</strong> eleitor individual, uma vez que<br />
este aparece quase despi<strong>do</strong>, numa situação pré -constitucional. A segunda<br />
parte da obra, no entanto, procura aplicar os critérios de decisão <strong>do</strong> indivíduo<br />
à escolha da democracia, de um regime político bicameral e até fazer<br />
o que podemos chamar uma descrição <strong>do</strong> funcionamento de uma câmara<br />
alta com três ‘sena<strong>do</strong>res’. Os autores explicam que sem previsões não há<br />
propriamente teoria, mas apenas uma linguagem de descrição. O texto é<br />
de uma grande elegância formal, mas apesar disso parece difícil testar as<br />
previsões, dada a simplifi cação espartana <strong>do</strong>s modelos. A sensação de estar<br />
face a algo ‘verdadeiro’, que toca o leitor, advém de se conseguir explicar a<br />
existência de alguns fenómenos muito importantes no funcionamento das<br />
negociações <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> americano. Até então o logrolling, isto é, a troca de<br />
votos nas causas em que os representantes se empenham, pelo voto noutras<br />
a que são menos sensíveis, e mesmo o porkbarrell, a troca de votos favoráveis<br />
por benefícios para os constituintes de uma circunscrição – uma forma<br />
de caciquismo – omnipresentes no processo legislativo norte -americano,<br />
dada a ausência de disciplina de voto, apareciam como acontecimentos fortuitos,<br />
senão práticas espúrias, não previstas na constituição, nem nos regulamentos.<br />
Agora recebem direitos de cidadania como fenómenos dignos<br />
da ciência política, mesmo de uma ciência matematicamente formalizada.<br />
Em compensação, a lista de proposições testáveis que, em certo passo, os<br />
autores apresentam parece bastante vaga. Estes modelos elementares são<br />
esqueletos a pedir carne. [7] Mas, mesmo os críticos, como Brian Barry, afi rmam<br />
que estas abordagens da participação política têm o duplo mérito de<br />
apresentar as potencialidades <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> para “clarifi car o pensamento” e<br />
de denunciar ideias falaciosas que parecem de bom senso, ao mesmo tempo<br />
que revelam os seus próprios limites na capacidade de produzir deduções<br />
e algumas “difi culdades conceptuais” (Barry, 1978: 13). Isto poderia, à pri-<br />
7 A hipótese <strong>do</strong> votante racional, desenvolvida por Downs, em 1957 e analisada criticamente<br />
por Barry em 1970 foi reformulada por Riker/Ordeshook (1968: <strong>25</strong> -42). Cfr também Mueller<br />
(2005: 304 -308) e ainda o comentário de Gor<strong>do</strong>n Tullock (1967: 334 -338). Um balanço em.<br />
Brian Barry (1978) especialmente o cap. 2.<br />
<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 238 05-01-2012 09:38:32