04.07.2013 Views

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

LUZES, CÂMARA OU ACÇÃO? TRÊS ONTOLOGIAS PARA A IMAGEM EM MOVIMENTO<br />

2. Luzes: o ilusionismo<br />

<strong>25</strong>1<br />

Quan<strong>do</strong> se pensa na natureza das imagens em movimento e da relação<br />

especial que elas estabelecem com o especta<strong>do</strong>r, o mais natural será pensar<br />

que a impressão de realismo que se obtém a partir delas resulta de uma<br />

ilusão. Sucintamente, o Ilusionismo defende que é condição necessária <strong>do</strong><br />

processo normal da experiência cinematográfi ca o facto de esta causar no<br />

especta<strong>do</strong>r a crença falsa de que as personagens e eventos fi ccionais são<br />

reais. Os adeptos <strong>do</strong> Ilusionismo defendem, portanto, que o mecanismo<br />

padrão pelo qual o cinema controla a atenção <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r é de natureza<br />

ilusionística e que a criação de uma ilusão da realidade é uma característica<br />

comum da transacção entre o fi lme e o especta<strong>do</strong>r. Esta tese supõe uma<br />

versão fraca e uma versão forte: (a) na versão mais fraca, o especta<strong>do</strong>r acaba<br />

por acreditar, ao fi m de um processo gradual de ajustamento, que o que<br />

vê no ecrã é real; (b) na versão mais forte, o especta<strong>do</strong>r acredita que está<br />

mesmo a assistir a acontecimentos reais. A versão mais forte é a mais disseminada:<br />

o especta<strong>do</strong>r acredita estar presente perante os eventos apresenta<strong>do</strong>s<br />

pelo fi lme e crê observar a partir da posição ocupada pela câmara, que<br />

assume como a sua posição, tal como defende, entre outros, Erwin Panofsky,<br />

mentor <strong>do</strong> “Ilusionismo Cognitivo”.<br />

O Ilusionismo, sobretu<strong>do</strong> na sua versão mais forte, tem uma vantagem<br />

importante em relação a outras teorias da imagem em movimento<br />

uma vez que conduz a uma explicação relativamente simples <strong>do</strong>s factores<br />

que asseguram a tracção diegética e o engajamento <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r quan<strong>do</strong><br />

segue um fi lme de fi cção. Ao vermos Casablanca, não vemos Humphrey<br />

Bogart ou Ingrid Bergman mas Rick Blaine e Ilsa Lund. O mun<strong>do</strong> fi ccional<br />

sobrepõe -se à experiência <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real <strong>do</strong>s actores e <strong>do</strong>s cenários. Diremos,<br />

nesse caso, que a representação -por -uso se sobrepõe à representação-<br />

-por -origem. No cinema, como na fotografi a ou na pintura, deparamo -nos<br />

com <strong>do</strong>is níveis ou extractos de representação. [2] Temos, por um la<strong>do</strong>, a<br />

representação -por -origem, i.e., o fi lme representa algo em virtude <strong>do</strong> processo<br />

da sua própria fabricação, i.e., o fi lme representa, desde logo, aquilo<br />

que estava à frente da câmara e que deixou um vestígio na película. Neste<br />

nível, o fi lme representa -por -origem a fonte das suas imagens, nomeadamente,<br />

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, e são estas pessoas, e não<br />

outras, que o especta<strong>do</strong>r pode reconhecer ao ver o fi lme. Mas o cinema<br />

pode também representar -por -uso como quan<strong>do</strong> usa a persona de Hum-<br />

2 A<strong>do</strong>pto aqui a terminologia proposta por Gregory Currie em “Pictures of King Arthur: Photography<br />

and the power of narrative” e por Robert Hopkins em “What <strong>do</strong> we see in fi lm?”.<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> <strong>25</strong>1 05-01-2012 09:38:33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!