Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
PODE CALCULAR -SE O CONSENTIMENTO? THE CALCULUS OF CONSENT AOS CINQUENTA ANOS<br />
235<br />
parece improvável. Por isso, embora o acor<strong>do</strong> não dispense o debate, esses<br />
confl itos de opinião devem poder ser resolvi<strong>do</strong>s “com uma razoável análise<br />
e discussão”, à semelhança das disputas sobre regras <strong>do</strong> jogo, antes <strong>do</strong> jogo<br />
começar. Um pouco como o joga<strong>do</strong>r representativo, ou médio, pode discutir<br />
racionalmente as regras que tornam um jogo interessante, com relativa<br />
imparcialidade (Idem, 79 -80). [5] Portanto, para<strong>do</strong>xalmente, o indivíduo<br />
utilitário senão interesseiro só é capaz de escolher as regras constitucionais<br />
que vão reger o seu envolvimento na vida política justamente quan<strong>do</strong><br />
esquece os seus interesses próprios, porque coincidem com os interesses<br />
<strong>do</strong>s demais.<br />
II. Os pressupostos<br />
Antes de fazer a avaliação crítica <strong>do</strong> modelo impõe -se analisar, mesmo que<br />
brevemente, os seus pressupostos. Os autores têm o cuida<strong>do</strong> de explicitar<br />
claramente as simplifi cações que permitiram construir as suas teorias. O<br />
texto começa até por aí, mas pareceu preferível nesta apresentação inverter<br />
a ordem de exposição, para ser mais fácil perceber até que ponto os seus<br />
desenvolvimentos dependem realmente destas hipóteses de partida.<br />
A natureza <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />
Curiosamente, depois da apologia da uma ciência positiva, Buchanan<br />
defi ne o esta<strong>do</strong> em termos normativos, ainda que não idealiza<strong>do</strong>s. Como se<br />
explica logo na introdução da obra, se a teoria política visa dizer “o que é o<br />
esta<strong>do</strong>”, a fi losofi a política o que este deve ser, e a ciência política descreve<br />
como se organiza o esta<strong>do</strong>, o exercício que fazem de estu<strong>do</strong> das soluções<br />
constitucionais pode ser considera<strong>do</strong> fi losófi co, pois também assenta no<br />
que “pensamos que o esta<strong>do</strong> deve ser” (Idem, 3). O esta<strong>do</strong> deve ser uma<br />
forma de acção colectiva e há algumas assunções sobre como “deve ser<br />
concebida” esta unidade colectiva fundamental (Idem, 11). O cálculo <strong>do</strong><br />
consentimento individual de Buchanan rejeita também a concepção organicista<br />
<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> mas, desta vez, sobretu<strong>do</strong> por razões éticas. Admite -se<br />
até, em termos puramente descritivos, que considerar o esta<strong>do</strong> como uma<br />
5 Este “véu de ignorância” pressupõe uma aproximação à igualdade, isto é, só funciona com<br />
duas condições: se “as diferenças existentes entre as características externas <strong>do</strong>s indivíduos são<br />
aceites sem rancor” e se não há por causa das diferenças (de religião, raça, étnicas, etc.), bases<br />
previsíveis para a formação de coligações permanentes. (Idem, 78 -79)<br />
<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 235 05-01-2012 09:38:32