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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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236<br />

JOSÉ COLEN<br />

unidade orgânica poderia simplifi car a análise. Toman<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> como<br />

unidade de decisão, bastaria procurar o padrão de valores, ou a escala de<br />

fi ns, que orienta a acção independente <strong>do</strong> governo, mas esta concepção é<br />

oposta à da tradição livre da fi losofi a ocidental. [6] É esta tradição <strong>do</strong> individualismo<br />

liberal que leva à rejeição, não só das concepções <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> como<br />

entidade supra individual, ao estilo hegeliano, mas também de um certo<br />

idealismo democrático, ao estilo de Rousseau, que presume a existência<br />

de uma vontade geral “mística” ou, noutros termos, um “interesse público<br />

separa<strong>do</strong> e independente <strong>do</strong>s indivíduos participantes” (Idem, 12 -13). Tal<br />

concepção organicista poderia, nalguns casos, apresentar vantagens na descrição<br />

pois, embora a construção de proposições operacionais com senti<strong>do</strong><br />

possa ser complexa, evita o “problema da ponte entre os valores individuais<br />

e os valores sociais” (Idem, 11). O que acontece é que, pura e simplesmente,<br />

tal descrição não é para os autores da obra eticamente aceitável. Também<br />

na abordagem deste livro não há propriamente funções que o esta<strong>do</strong> deva<br />

sempre desempenhar. A acção colectiva não é, portanto, encarada senão<br />

como uma “acção <strong>do</strong>s indivíduos que escolhem atingir certos fi ns colectivamente<br />

e não individualmente e o governo é visto apenas como um conjunto<br />

de processos, a máquina” que o permite, ou seja, um mero artefacto, obviamente<br />

perfectível (Idem, 13).<br />

Os indivíduos têm contu<strong>do</strong> fi ns diferentes e, por isso, “qualquer teoria<br />

da escolha colectiva deve tentar explicar ou descrever os meios através <strong>do</strong>s<br />

quais interesses em confl ito são reconcilia<strong>do</strong>s”, de forma em tu<strong>do</strong> paralela à<br />

que a teoria económica usa para descrever os mecanismos da troca entre as<br />

escolhas individuais. A escolha fundamental é da própria repartição entre as<br />

decisões públicas e as privadas ou, na expressão <strong>do</strong>s autores, “como é que a<br />

linha divisória entre a acção colectiva e acção individual vai ser desenhada”<br />

(Idem, 5). A função da teoria, contu<strong>do</strong>, não é traçar normativamente essa<br />

linha, isto é, dizer que esta ou aquela actividade deve ser pública ou, pelo<br />

contrário, deve permanecer privada, mas elaborar “um modelo analítico<br />

que descreva ou explique os processos através <strong>do</strong>s quais os indivíduos <strong>do</strong><br />

grupo podem tomar essa decisão fundamental”, uma vez que os próprios<br />

mecanismos ou regras de decisão são objecto de escolha (Ibidem).<br />

6 Nos moldes em que por exemplo Isaiah Berlin a defi ne, nas lições sobre os <strong>do</strong>is conceitos de<br />

liberdade. O livro refere -se explicitamente ao texto de Berlin como expressão dessa tradição<br />

moral.<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 236 05-01-2012 09:38:32

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