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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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LUZES, CÂMARA OU ACÇÃO? TRÊS ONTOLOGIAS PARA A IMAGEM EM MOVIMENTO<br />

263<br />

de percepção. Imaginemos 2 relógios, A e B. Os ponteiros de A comandam<br />

os ponteiros de B através de ondas rádio. Quan<strong>do</strong> olho para o relógio<br />

B, existe uma clara dependência natural entre a minha experiência visual<br />

de B e a aparência <strong>do</strong> relógio A; há uma clara preservação da “relação de<br />

semelhança real” entre a observação de A e a de B. é Mas isto ainda não é<br />

sufi ciente para afi rmar que estou a ver A quan<strong>do</strong> estou a ver B. Porquê?<br />

Porque, apesar de haver um grau eleva<strong>do</strong> de erros discriminativos comuns<br />

às duas observações, a verdade é que não há razões para acreditar que a<br />

extensão desta coincidência seja pertinente. Há muitos juízos que fazemos<br />

quan<strong>do</strong> vemos A que não fazemos quan<strong>do</strong> vemos B. Há, nomeadamente,<br />

muita “informação egocêntrica” que retiramos de um acto de visão, i.e.,<br />

informação sobre as relações espácio -temporais entre nós e o objecto: o<br />

objecto está aqui. O termo “ver” implica o perspectivar. E a perspectiva<br />

a partir da qual vejo as coisas depende da posição <strong>do</strong> meu corpo face ao<br />

objecto naquela circunstância. Logo, como é óbvio, a informação egocêntrica<br />

que retiro da observação de B será pouco elucidativa sobre a informação<br />

egocêntrica que retiraria da observação de A. Isto é ainda mais fl agrante<br />

no caso da relação entre X e a fotografi a de X. Na observação normal de X,<br />

é comum retirar ilações sobre a informação egocêntrica, sobretu<strong>do</strong> no caso<br />

das relações espaciais, e essas ilações podem estar erradas: o objecto não<br />

está a 3 metros de mim mas a 5. Uma vez que as fotografi as não veiculam<br />

informação egocêntrica, não posso dizer que erro se não consigo discriminar<br />

correctamente o tipo de informação egocêntrica que ela me transmite.<br />

Em conclusão, se considerarmos a informação egocêntrica, os erros discriminativos<br />

comuns entre X e a sua fotografi a são escassos, pelo que deixa de<br />

fazer senti<strong>do</strong> afi rmar que as fotografi as são como os espelhos ou as lentes<br />

no acesso que permitem aos objectos reais.<br />

A demarcação que Walton faz entre dependência natural e dependência<br />

intencional, é importante mas teremos de concluir que se trata da diferença<br />

entre <strong>do</strong>is tipos de representações de X, e não de uma diferença entre<br />

um “acesso directo” a X e uma representação de X. Tanto as representações<br />

naturais (como termómetros, barómetros, anéis nos troncos das árvores<br />

ou fotografi as) como as intencionais (pintura) fornecem -nos informação<br />

sobre coisas sem nos conceder um acesso perceptual às mesmas. A diferença<br />

reside apenas no mo<strong>do</strong> como essa informação é gerada.<br />

Roger Scruton é outro importante defensor da Doutrina da Transparência:<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 263 05-01-2012 09:38:34

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