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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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246<br />

JOSÉ COLEN<br />

no merca<strong>do</strong> a motivação económica prevalece, sobretu<strong>do</strong> porque, talvez<br />

desconfi an<strong>do</strong> -se que os indivíduos são, muitas vezes, mais desinteressa<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> que o utilitário egoísta que o séc. XVIII popularizou, a maior parte das<br />

trocas acabou por ser confi ada a empresas, que têm inscritas na sua carta<br />

de missão que o seu fi m é lucrativo. O que nos pode levar a pensar que se<br />

há uma ordem ao acaso, também há desígnios.<br />

Nesta derivação <strong>do</strong>s bens públicos a partir <strong>do</strong> interesse próprio, nem<br />

mecanismos de transmissão da informação, nem desígnios são claros nos<br />

modelos descritivos que apresentámos. Porque os ‘produtos laterais’ destas<br />

actividades políticas, como por acaso, resolvem problemas bastante básicos,<br />

como o estabelecimento de direitos, ou um mínimo de lei e ordem, ou ainda<br />

a provisão de bens públicos que a livre troca no merca<strong>do</strong> não forneceria.<br />

Coincidência? É por isso compreensível que o neo -institucionalismo tenha<br />

considera<strong>do</strong> que, numa mera agregação das escolhas baseadas nas preferências<br />

individuais, “não há cola a segurar os átomos; não há sociedade”<br />

(Shepsle, 1989: 134). É impossível não reconhecer, também, a pertinência<br />

de outros aspectos da crítica institucionalista ao individualismo – como a<br />

facilidade com que se aplica um modelo com três sena<strong>do</strong>res aos sistemas<br />

bicamaralistas em geral. Também é indiscutível o potencial das formalizações<br />

da teoria <strong>do</strong>s jogos na descrição das instituições. [12] Mas a ciência formal<br />

não é o duplica<strong>do</strong> <strong>do</strong>s acontecimentos vivi<strong>do</strong>s (Aron, 1938: 350 -355),<br />

nem nas ciências sociais, nem nas naturais. Pode recear -se que a teoria política,<br />

tal como a económica, nunca funcione tão bem como quan<strong>do</strong> não há<br />

instituições reais, nem fenómenos psicológicos – seja o Banco de Inglaterra,<br />

o pânico na bolsa, o Congresso ou o pragmatismo <strong>do</strong>s sena<strong>do</strong>res, que são<br />

invariavelmente mais complexos <strong>do</strong> que seria desejável para a análise. A<br />

psicologia – egoísta, altruísta – <strong>do</strong>s agentes, a sociologia e as instituições<br />

que descreve, podem ser condições para o modelo e requisitos da aplicação<br />

da teoria ao concreto, mas introduzem ‘impurezas’ nas teorias.<br />

O que nos leva ao último ponto: as patologias, que Green e Saphiro referem,<br />

fazem provavelmente parte da condição comum <strong>do</strong> esforço de construir<br />

modelos científi cos formais. Todas as teorias, confrontadas com da<strong>do</strong>s<br />

empíricos, que se revelam incompatíveis com as previsões, devem levar à<br />

reformulação <strong>do</strong>s pressupostos, de tal mo<strong>do</strong> que salvem a teoria, a menos<br />

12 Embora nem todas as formalizações são propriamente deduções: para além <strong>do</strong> aspecto algébrico,<br />

a teoria <strong>do</strong>s jogos é largamente indutiva. Depois de defi nir o que é uma estratégia maximin,<br />

não creio que se deva tomar por certo que o comportamento de um estudante de Harvard<br />

que arrisca 100$ seja análogo ao de um sujeito representativo que decide se aceita a possibilidade<br />

de ser escravo. Curiosamente uma das críticas mais frequentes a Rawls é deste teor (Mueller,<br />

2005: 609).<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 246 05-01-2012 09:38:33

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