Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
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JOSÉ COLEN<br />
Um <strong>do</strong>s fenómenos por explicar é o voto <strong>do</strong>s cidadãos (Mueller, 2005).<br />
Olson tinha entretanto observa<strong>do</strong>, com satisfação, que apesar da profecia<br />
de Marx sobre as revoluções baseadas no interesse de classe, as classes não<br />
tinham consegui<strong>do</strong> mobilizar os seus membros, manten<strong>do</strong> -se como meros<br />
grupos latentes (Olson, 1971). Mas, claro, chega<strong>do</strong>s a este ponto, a questão<br />
é muito mais básica: porque há sequer movimentos revolucionários? Como<br />
Mueller nota, “para o analista da public choice o puzzle das revoluções é<br />
porque é que os indivíduos participam nela, e portanto porque é que elas<br />
sequer ocorrem” – excepto, claro, aqueles poucos que têm esperança de<br />
benesses, ou outros incentivos selectivos, no novo regime. Temos portanto<br />
o para<strong>do</strong>xo <strong>do</strong> voto e o puzzle das revoluções. Barry com malícia junta -lhe<br />
o <strong>do</strong>s voluntários na guerra, mas podemos facilmente generalizar: to<strong>do</strong>s<br />
os casos em que se envolvem grandes conjuntos de pessoas na provisão<br />
de “bens públicos”, <strong>do</strong>s quais não é possível excluir os não participantes,<br />
levantam esta mesma difi culdade, incluin<strong>do</strong> os movimentos revolucionários<br />
(Mueller, 2005: 204 -206).<br />
IV. Críticas<br />
As abordagens <strong>do</strong> problema da participação política, que foram iniciadas<br />
com Th e Calculus of consent partilham alguns traços comuns. “[D]efi nem<br />
a teoria política pela relação às outras ciências sociais, em especial à economia”<br />
e apresentam -se como essencialmente científi cas e descritivas – por<br />
oposição a fi losófi cas ou normativas (Aron, 2006: 583 -602) – ainda que<br />
aceitem restrições éticas na defi nição <strong>do</strong> perímetro exterior <strong>do</strong> modelo. O<br />
aparelho conceptual e o méto<strong>do</strong> de análise são transpostos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da<br />
organização económica para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> homem na arena pública. Este<br />
atravessamento das fronteiras não se dá sem que se levantem algumas<br />
objecções acerca <strong>do</strong>s seus perigos. Como Buchanan e Tullock observam,<br />
qualquer agricultor sabe que<br />
[o] solo junto nas fronteiras é provavelmente mais fértil, mais produtivo,<br />
quan<strong>do</strong> devidamente cultiva<strong>do</strong>, <strong>do</strong> que aquele mais acessível no centro <strong>do</strong> terreno.<br />
Esta vantagem potencial tende a ser contrabalançada, no entanto, pela<br />
probabilidade de erro e acidente aumentada ao longo <strong>do</strong>s limites da orto<strong>do</strong>xia.<br />
(Buchanan/Tullock, 1967: V)<br />
Na visão de um humanista como Raymond Aron, por exemplo, embora<br />
se possam defi nir livremente quaisquer modelos, desde que sejam a pos-<br />
<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 240 05-01-2012 09:38:32