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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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206<br />

ÂNGELO MARTINGO<br />

agógicos <strong>do</strong>s intérpretes (Repp, 2003: 67) (cf também Repp, 1992b, 1995,<br />

1998a, 1998b). Posto de outro mo<strong>do</strong>, ao ser menos detecta<strong>do</strong> o desvio nos<br />

sítios em que é normalmente pratica<strong>do</strong>, infere -se que este está interioriza<strong>do</strong>,<br />

fazen<strong>do</strong> parte das expectativas <strong>do</strong>s ouvintes. Em investigação relacionada,<br />

Krumhansl (2003: 91) reporta uma correlação entre elementos musicais e<br />

tensão, sen<strong>do</strong> esta associada a factores como o tempo, a altura, a intensidade,<br />

o mo<strong>do</strong>, e a frustração de expectativas com interrupção de sequências<br />

harmónicas. Em particular, Krumhansl (1996, in Krumhansl, 2003:<br />

90 -91) faz notar que, independentemente da formação musical, os sujeitos<br />

indicam uma menor tensão no início de secções e no surgimento de ideias<br />

musicais, e uma tensão maior no fi nal de secções, particularmente, no fi nal<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento.<br />

Partin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s mesmos pressupostos, e toman<strong>do</strong> a sistematização <strong>do</strong><br />

‘espaço tonal’ desenvolvida por Lerdahl (2001), Martingo (2006; 2007a;<br />

2007b), mostra não só que os desvios pratica<strong>do</strong>s por intérpretes são parcialmente<br />

explica<strong>do</strong> ora pela ‘tensão’ (afastamento da tónica), ora pela<br />

‘atracção’ (dissonância melódica e necessidade de resolução) previstos pela<br />

teoria, como também que aquelas interpretações em que os desvios expressivos<br />

correlacionam signifi cativamente com esses elementos são sistematicamente<br />

referi<strong>do</strong>s como globalmente mais satisfatórios pelos sujeitos.<br />

A importância dessa representação cognitiva na comunicação musical<br />

não se limita, porém, aos desvios expressivos, apresentan<strong>do</strong> -se observações<br />

que indiciam a sua infl uência na racionalização <strong>do</strong> gesto e <strong>do</strong> corpo. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, Davidson (1991, 1993, 1999, 2008) e Davidson & Dawson (1995)<br />

dão conta <strong>do</strong> gesto como um elemento simultaneamente determina<strong>do</strong> pela<br />

estrutura e revela<strong>do</strong>r desta, em particular, sen<strong>do</strong> mais intensos no fi nal de<br />

frases e secções (Davidson, 1991), e refl ectin<strong>do</strong> elementos como a harmonia,<br />

o andamento, e a tensão (Davidson, 1999: 83). Para além disso, da leitura<br />

<strong>do</strong>s gestos na interpretação são inferidas características <strong>do</strong> texto bem<br />

como da expressividade intencionalmente veiculada pelo intérprete (Davidson,<br />

1991, 1993, relata<strong>do</strong> em Davidson, 1999: 87)<br />

Assim, se por um la<strong>do</strong>, constatamos a existência de estu<strong>do</strong>s que revelam<br />

uma recepção não mediada da comunicação musical, por outro la<strong>do</strong>,<br />

quan<strong>do</strong> analisada <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong>s elementos musicais, interpretação,<br />

percepção, e corpo, parecem conjugar -se na construção de expectativas e<br />

senti<strong>do</strong>. Jacken<strong>do</strong>ff (1992) junta a estes alguns da<strong>do</strong>s que não só concorrem<br />

para a compreensão desta dicotomia entre mimesis e racionalidade como<br />

apontam para uma simbiose desses mo<strong>do</strong>s de senti<strong>do</strong>.<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 206 05-01-2012 09:38:30

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