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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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PODE CALCULAR -SE O CONSENTIMENTO? THE CALCULUS OF CONSENT AOS CINQUENTA ANOS<br />

241<br />

teriori testa<strong>do</strong>s, estes modelos em concreto não estão de acor<strong>do</strong> com o<br />

senti<strong>do</strong> subjectivo que os agentes atribuem às suas condutas. O politólogo<br />

pode apresentá -los, ora para mostrar a hipocrisia e cinismo <strong>do</strong>s agentes, ora<br />

para confrontá -los com a realidade e perceber a importância das motivações<br />

excluídas. Mesmo este segun<strong>do</strong> uso, como mero instrumento heurístico,<br />

corre sempre o risco de “sob pretexto de defi nir uma teoria abstracta”<br />

(Aron, 2006: 583) sugerir, como a única verdadeira, uma interpretação<br />

cínica <strong>do</strong> jogo político. É realmente certo que essa é uma tentação comum.<br />

Considera -se habitualmente que a fecundidade da abordagem da escolha<br />

pública pressupõe uma certa concepção <strong>do</strong> homem. Mueller, por exemplo,<br />

afi rma na sua síntese sobre a public choice:<br />

A ciência política estuda o comportamento <strong>do</strong> homem na arena pública;<br />

a economia estuda o homem no merca<strong>do</strong>. A ciência política pressupôs muitas<br />

vezes que o homem político persegue o interesse público. A economia pressupõe<br />

que to<strong>do</strong>s os homens perseguem os seus interesses priva<strong>do</strong>s (...) O postula<strong>do</strong><br />

básico da escolha pública, tal como para a economia, é que o homem é<br />

um ser egoísta, racional e que busca maximizar a sua utilidade (Mueller, 2005:<br />

1 -2).<br />

Tal postula<strong>do</strong> é questionável. Plamenatz, por exemplo, no seu ataque<br />

aos utilitários, afi rma:<br />

O homem não é só um animal que é diferente <strong>do</strong>s outros na medida em<br />

que planeia e calcula (...), ele (...) quer ser um certo tipo de pessoa e não outra<br />

e viver um certo tipo de vida e não outra (...) [Os homens] não são meros concorrentes,<br />

mesmo benevolentes, num merca<strong>do</strong> pelo fornecimento de desejos<br />

pessoais; são membros de uma sociedade e as suas esperanças e sentimentos,<br />

tanto acerca de si como <strong>do</strong>s outros, não seriam o que são à parte das suas lealdades<br />

de grupo.<br />

Eles vêem -se a si mesmo como ten<strong>do</strong> direitos e deveres, como seres morais,<br />

porque têm alguma concepção de um mun<strong>do</strong> social com papeis a ser desempenha<strong>do</strong>s<br />

por si e pelos outros (Plamenatz, 1958: 173 -175). [8]<br />

De mo<strong>do</strong> geral, um <strong>do</strong>s problemas <strong>do</strong> individualismo meto<strong>do</strong>lógico<br />

é que difi culta enormemente a aceitação de qualquer forma de interesse<br />

público, ou de bem comum, que não seja simples resulta<strong>do</strong> da agregação<br />

de preferências individuais. Não, evidentemente, apenas porque o individualismo<br />

tem uma ressonância moral, uma vez que rima com egoísmo.<br />

8 Cfr. ainda o comentário de Brian Barry (Barry, 1978: 176).<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 241 05-01-2012 09:38:32

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