04.07.2013 Views

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

LUZES, CÂMARA OU ACÇÃO? TRÊS ONTOLOGIAS PARA A IMAGEM EM MOVIMENTO<br />

273<br />

momento em que a história proporciona os inputs que guiam a simulação,<br />

somos “agarra<strong>do</strong>s” pela obra de fi cção. Mesmo saben<strong>do</strong> que se trata de uma<br />

fi cção, uma obra pode ter efeitos sobre os nossos processos mentais que são<br />

semelhantes aos efeitos da não -fi cção: comovem -nos, assustam -nos, prendem<br />

a nossa atenção. Contu<strong>do</strong>, através deles nós não adquirimos crenças<br />

mas imaginações que simulam esta<strong>do</strong>s de crença. Simulo, então, o processo<br />

de adquirir crenças – aquelas crenças que eu adquiriria se tomasse a obra<br />

como um facto e não como uma fi cção.<br />

As crenças e os desejos são esta<strong>do</strong>s mentais com 2 componentes: um<br />

aspecto representacional e outro funcional. Quan<strong>do</strong> não diferem no conteú<strong>do</strong><br />

representacional (“ Creio que vai chover” e “Espero que chova” possuem<br />

o mesmo conteú<strong>do</strong>), diferem no aspecto funcional, i.e., em termos<br />

das suas causas e efeitos: são diferentes atitudes. Assim sen<strong>do</strong>, parece que há<br />

algo de erra<strong>do</strong> em afi rmar que podemos simular “fazen<strong>do</strong> correr as nossas<br />

crenças off -line”, pois colocar “off -line” implica cortar com o feixe de conexões<br />

que une os nossos esta<strong>do</strong>s mentais às suas causas perceptivas e aos<br />

seus efeitos comportamentais. É portanto mais correcto pensar que a simulação<br />

transforma as crenças em imaginações. Tal como a crença e o desejo<br />

diferem funcionalmente, assim também diferem a crença e o imaginar. Em<br />

que consistirá, portanto, o carácter funcional das imaginações? Apesar de<br />

não possuírem as mesmo ligações ao mun<strong>do</strong> exterior que o nosso sistema<br />

de crenças, em termos de input perceptivo e de efeito comportamental, as<br />

imaginações retêm algumas conexões internas com outros esta<strong>do</strong>s mentais<br />

e com o corpo, que são semelhantes às sinapses das crenças.<br />

As fi cções também provocam desejos imaginários, tal como provocam<br />

crenças imaginárias. Eu quero que o herói seja bem -sucedi<strong>do</strong>. Mas como?<br />

Como posso desejar algo para uma entidade na qual não acredito? Os desejos<br />

são também postos a correr off -line, em ligação com as crenças fi ngidas.<br />

Falaremos, portanto, de desejos fi ngi<strong>do</strong>s. Tenho um desejo fi ngi<strong>do</strong> de que o<br />

herói seja bem -sucedi<strong>do</strong>, o que é acompanha<strong>do</strong> pela crença fi ngida na sua<br />

existência. Tradicionalmente, as teorias da imaginação na fi cção assentam<br />

em três categorias: crença, desejo e imaginação. A teoria da semelhança<br />

contrapõe, no entanto, a existência de quatro categorias: crença, desejo,<br />

crença fi ngida e desejo fi ngi<strong>do</strong>. Segun<strong>do</strong> a teoria tradicional, não seria possível<br />

imaginar simplesmente que ocorreu um certo esta<strong>do</strong> de coisas; teria<br />

de imaginar que eu acreditava que ele tinha ocorri<strong>do</strong>. Isto coloca problemas<br />

no caso em que o autor prescreve que o leitor imagine que algo ocorreu<br />

mas que ninguém sabe que ocorreu. Isto implicaria que o leitor imaginasse<br />

que acredita que esse facto aconteceu ao mesmo tempo que imaginava que<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 273 05-01-2012 09:38:34

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!