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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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PODE CALCULAR -SE O CONSENTIMENTO? THE CALCULUS OF CONSENT AOS CINQUENTA ANOS<br />

239<br />

meira vista, forçar -nos a questionar o valor da abordagem económica, mas<br />

como ele observa, se não é apenas “um truque restabelecer to<strong>do</strong> o comportamento<br />

em termos de recompensas e custos”, pode trazer consigo, para<br />

alguns desígnios, um sistema conceptual útil, desde que se considerem os<br />

conceitos como caixas vazias a pedir conteú<strong>do</strong> (Idem, 15). Uma situação,<br />

no entanto, só é apropriada para o modelo se aquilo que este está a abstrair<br />

pode ser ignora<strong>do</strong>, ao menos sem graves inconvenientes. A dúvida pode<br />

surgir: então, porque não considerar um comportamento altruísta, isto é,<br />

um agente racional capaz de incorrer em custos em nome daquilo que, na<br />

própria opinião <strong>do</strong> agente, é o bem comum? O próprio Barry se opõe, afi rman<strong>do</strong><br />

que:<br />

Não há intenção de negar que queremos às vezes permitir a possibilidade<br />

de os custos e benefícios de certo agente serem parcialmente constituí<strong>do</strong>s pela<br />

felicidade ou infelicidade <strong>do</strong>s outros, cujos interesses tem no coração. Insistimos<br />

apenas que eles devem ainda assim fi gurar como os seus custos e benefícios.<br />

E quan<strong>do</strong> permitimos este tipo de altruísmo, devemos reconhecer que<br />

enfraquecemos o poder dedutivo <strong>do</strong> nosso modelo económico. (Idem, 23)<br />

Esse enfraquecimento deriva <strong>do</strong> obscurecimento da diferença entre<br />

interesse colectivo e interesse próprio. E Barry conclui, por fi m, simplesmente<br />

que “se deve aban<strong>do</strong>nar como infrutífera a tentativa de explicar a<br />

decisão de votar como decorrente da racionalidade económica” (Idem, 21).<br />

Gostaríamos de salientar que este aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> dever, <strong>do</strong> ‘fazer<br />

o que cabe a cada um’, para as trevas exteriores da ética, inconsistente com o<br />

modelo, só tem razão de ser porque, tal como tinham dito também Buchanan<br />

e Tullock, parece à primeira vista diminuir o valor operacional <strong>do</strong> próprio<br />

modelo. A sua exclusão arrisca -se, todavia, a expulsar defi nitivamente<br />

um componente <strong>do</strong> cálculo que pode revelar -se fundamental em toda a<br />

provisão de bens públicos – quer seja atributo de to<strong>do</strong>s os eleitores, quer de<br />

uma elite, ou mesmo apenas de um conselheiro de um príncipe imaginário.<br />

Não são apresenta<strong>do</strong>s argumentos contra esse cálculo universal e de longo<br />

prazo, que caracteriza uma avaliação ética ao estilo kantiano, excepto as<br />

difi culdades práticas em observar ‘sociedades de anjos’.<br />

Pesquisa empírica sobre a participação política<br />

Que a abstracção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> dever tem inconvenientes práticos fi ca claro<br />

quan<strong>do</strong> a evidência empírica não coincide com as previsões <strong>do</strong>s modelos.<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 239 05-01-2012 09:38:32

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