Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
208<br />
Sumário e conclusão<br />
ÂNGELO MARTINGO<br />
Os elementos avança<strong>do</strong>s sobre experiências intensas apontam no senti<strong>do</strong><br />
de uma recepção acrítica em que o sujeito, sem prejuízo da ocorrência de<br />
emoções negativas, é transporta<strong>do</strong> para um esta<strong>do</strong> de consciência pre<strong>do</strong>minantemente<br />
passivo, pacifi ca<strong>do</strong>r, e catártico. Tais relatos têm paralelo nas<br />
experiências intensas no <strong>do</strong>mínio religioso, e encontram suporte em mecanismos<br />
fi siológicos associa<strong>do</strong>s ao prazer. Por outro la<strong>do</strong>, estu<strong>do</strong>s empíricos<br />
sobre a produção e percepção de desvios expressivos, sugerem serem<br />
a interpretação e recepção fortemente condiciona<strong>do</strong>s por factores estruturais<br />
da música. A juntar a esses resulta<strong>do</strong>s, Jacken<strong>do</strong>ff (1992), procuran<strong>do</strong><br />
uma congruência entre da<strong>do</strong>s empíricos e teóricos, e com base em modelos<br />
musicais e linguísticos, aventa a possibilidade <strong>do</strong> processamento da informação<br />
musical apresentar uma dupla natureza – consciente e inconsciente<br />
–, em que o automatismo da gramática age simultaneamente com as implicação/realização<br />
da superfície musical e com o conhecimento prévio da<br />
obra e <strong>do</strong> idioma. Nesse contexto, ganharia propriedade o entendimento da<br />
expressão como interiorização da estrutura musical, revelan<strong>do</strong> -se, ao invés<br />
da dicotomia entre uma recepção mimética e uma outra mais racionalizada<br />
(Brattico et al, 2010), aquilo que, de um ponto de vista crítico, já A<strong>do</strong>rno<br />
(2003: 21) constara, a saber, que a música constitui tanto a manifestação <strong>do</strong><br />
instinto como a <strong>do</strong>mesticação deste<br />
Referências<br />
A<strong>do</strong>rno, T. (2003), “Sobre o carácter fetichista na música e a regressão da audição”, in<br />
A<strong>do</strong>rno, Th eo<strong>do</strong>r, Sobre a indústria da cultura, trad. Manuel Resende, Coimbra,<br />
Angelus Novus, pp. 21 -56.<br />
Bever, T. G., Garret, M. F. & Hurtig, R. (1973), “Th e interaction of perceptual processes<br />
and amginuous sentences”, Memory and Cognition 1, pp. 277 -286.<br />
Blood, A. J. & Zatorre, R. J. (2001), “Intensely pleasurable responses to music correlate<br />
with activity in brain regions implicated in reward and emotion”, Proc. Natl. Acad.<br />
Sci. USA98, pp. 11818–11823.<br />
Brattico, E., Jacobsen, T., De Baenee,W., Glereana, E., & Tervaniemia, M. (2010),<br />
“Cognitive vs. aff ective listening modes and judgments of music – An ERP study”,<br />
Biological Psychology 85, pp. 393 -409.<br />
Clarke, E. (1985), “Structure and expression in rhythmic performance”, in Howell,<br />
P., I. Cross & R. West (eds.), Musical structure and cognition, Lon<strong>do</strong>n, Academic<br />
Press, pp. 209 -36.<br />
<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 208 05-01-2012 09:38:30