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Diacritica 25-2_Filosofia.indb - cehum - Universidade do Minho

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262<br />

VÍTOR MOURA<br />

máticas <strong>do</strong>s objectos: há dependência natural mas não há percepção. [20]<br />

Porque não? Porque o tipo de erros que fazemos na discriminação de detalhes<br />

quan<strong>do</strong> percepcionamos um objecto é diferente <strong>do</strong> tipo de erros que<br />

fazemos quan<strong>do</strong> lemos descrições desse objecto: quan<strong>do</strong> vemos uma casa<br />

podemos confundi -la com um celeiro (ou seja, são erros basea<strong>do</strong>s em semelhanças<br />

reais entre os objectos); mas quan<strong>do</strong> lemos a palavra “casa” é mais<br />

fácil confundi -la com “causa” <strong>do</strong> que com “celeiro”. Portanto, o argumento<br />

a favor da transparência acrescenta uma segunda condição para podermos<br />

falar de um acesso percepcional aos objectos: (i) esse acesso assenta numa<br />

dependência natural e (ii) é capaz de preservar as “relações de semelhança<br />

real” entre as coisas. Como a pintura não satisfaz (i), e as descrições geradas<br />

mecanicamente não satisfazem (ii), elas não contam como acessos percepcionais.<br />

A fotografi a satisfaz os <strong>do</strong>is requisitos, logo ela é perceptiva e<br />

permite -nos ver as coisas que foram fotografadas. Ou seja, só a fotografi a é<br />

transparente.<br />

Contu<strong>do</strong>, a reunião <strong>do</strong>s 2 requisitos também não parece ser sufi ciente<br />

para garantir um acesso percepcional aos objectos. O comprimento da<br />

coluna de mercúrio no termómetro também depende naturalmente da<br />

quantidade de calor no ambiente. [21] E os erros discriminativos que nós<br />

podemos cometer quan<strong>do</strong> observamos as pequenas variações na coluna<br />

são semelhantes aos erros que fazemos quan<strong>do</strong> tentamos perceber o calor<br />

de algo sentin<strong>do</strong> -o na pele, uma vez que é muito difícil fazer discriminações<br />

de grau muito fi no nos <strong>do</strong>is casos. Assim, os termómetros de mercúrio<br />

cumprem com os <strong>do</strong>is requisitos da percepção visual propostos por Walton<br />

pelo que deveríamos poder afi rmar que observar o comprimento da coluna<br />

no termómetro deveria contar como uma forma de percepcionar o calor, o<br />

que é absur<strong>do</strong>. Tu<strong>do</strong> o que podemos dizer é que, ao percepcionar o comprimento<br />

da coluna, dele inferimos a temperatura ambiente. O adepto da<br />

Transparência pode contestar que os erros discriminativos que cometemos<br />

quan<strong>do</strong> observamos a coluna de mercúrio apenas em parte coincidem com<br />

a percepção <strong>do</strong> calor: se a luz diminui, estou mais sujeito a erro na leitura<br />

<strong>do</strong> termómetro mas não na percepção <strong>do</strong> calor; e se estou com febre é o<br />

contrário que acontece. Contu<strong>do</strong>, também é verdade que a coincidência<br />

de erros discriminativos é muito maior no caso da observação, respectivamente,<br />

da fotografi a e <strong>do</strong> objecto real. E mesmo que os erros discriminativos<br />

fossem exactamente os mesmos nos <strong>do</strong>is casos, ainda assim a reunião <strong>do</strong>s<br />

requisitos de Walton continuaria a não ser sufi ciente para podermos falar<br />

20 Walton, 1984:44.<br />

21 Cf. Currie, 1995:63.<br />

<strong>Diacritica</strong> <strong>25</strong>-2_<strong>Filosofia</strong>.<strong>indb</strong> 262 05-01-2012 09:38:34

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