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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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é vã como os berros daquele bêbado que se roja pela lama. Não creias! Nãocreias! Que não acredites no desconhecido, quando a tua alma é feita de umaporção de infinito amassado em terra! Não acredites que os mortos voltem, enão tarda que eles venham chorar desesperadas lágrimas ao pé de mim!...Vomita, estúpido, vomita na alma!... A esta hora os poetas começam asonhar, os criminosos a tecer os crimes, e quantos dramas no escurecer,quando as lágrimas se não veem e só os soluços se ouvem, se passam entreparedes frias, nesta aflitiva hora do crepúsculo! A pobre costureira, que sedebruça sobre o tecido para ver ainda, por certo se lembra de um amor jáfindo e deixa cair lágrimas sobre o linho gelado como as suas ilusões mortas; etu, cuja janela aberta dá para o mar largo, em que estás a pensar, de olhosabsortos, como se o visses, ao afogado, teu noivo, aparecer para as suasnúpcias?... É certa, é certa, pois, aquela história da rapariga a quem onamorado morreu no mar e que o viu um dia, nesta hora angustiosa docrepúsculo, sair lívido e amortalhado da espuma, levando-a para sempreconsigo?...Tudo tem vozes, a esta hora, as ervas humildes e as secas pedras. Tudo tembocas. Lembra-se a gente de olhares que não sabe já de quem são, de perfisperdidos, de corações que cessaram de bater...Tudo em mim me diz que tu existes. Não viveste, mas és uma criação domeu espírito. Existes mais do que se pertencesses à realidade. Como, de

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