25.08.2015 Views

A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

Untitled - Luso Livros

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A razão! Só a razão fria, gelada, é que eles admitem. E a intuição, porquenão? Pois não é como se um homem se servisse apenas de uma das mãos,tendo duas? Não será incompleto tudo quanto fizermos apenas com umaparte da nossa alma?A razão não basta, a razão tem sido educada, arrastada, habituada a seguir arotina, a andar pelo velho caminho árido e seco. A maravilhosa intuição é quepor vezes nos vale para arrancarmos um pedaço ao desconhecido.Para quantas criaturas esta vida exterior, fingida e nula, não é apenas umtrabalho de forçado, com a grilheta na imaginação? Quantos desgraçadosnunca encontraram na vida nem o amor, nem a amizade e se refugiam nosonho?Conheci um poeta pobre que em vez do amor tinha de se contentar com asmulheres perdidas. A sua poesia era cheia de febre e de aspiração: as criaturaspálidas e sonhadoras que passavam nos seus versos pertenciam ao céu — e, àsnoites, amava as mulheres perdidas. Fazia-as soltar os cabelos, dizia-lhespalavras de paixão. Chorava verdadeiras lágrimas.O estupor da vida que nos encharca a alma de quimeras, para as nãopodermos realizar; que nos dá a imaginação — e a vida prática; que nos deixasonhar, para depois nos atirar das estrelas à terra! E porquê? Para quê? Quecrime cometi eu, Senhor, para que tu a cada momento me castigues, a cada

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!