os outros, de tanto escutarem, vão ouvindo por hábito sempre as mesmascoisas, monótonas e repetidas...Para afinal morrer!... É certo: todo este sonho, esta luta, toda a vida feita dedesesperos e de lágrimas, de coisas encadeadas, umas ridículas e outrasdolorosas — para afinal morrer!... Se olho para trás, é a mesma cadeia, tecida alama da vida e a ouro do sonho, amassada nas mesmas lágrimas; se me ponhoa ver o que me espera, é a mesma coisa ainda: caras que envelhecem e sefazem duras, corações petrificados, o mesmo tédio, a mesma rua comprida eestúpida. Que estás tu aqui a fazer?... Ah sim, os outros!... Os outros não meimportam — se não os odeio... Para que é que eles me humilham? Para que éque eles triunfam na vida? Para que é que são felizes, quando eu medesespero?...E a verdade negra é que esta mesma inveja me dilacera... Quando meponho a odiá-los, ao sorrir-lhes, uma voz se encarniça dentro de mim, abradar-me: Sou um invejoso! Sou um invejoso!... E depois tenho a noiteperdida, deprimido, humilhado, a cara a doer-me de lhes ter sorrido, na alma orancor, a vontade de romper um dia a cuspir-lhes o meu ódio...Mas isto não dura, pois que eu nem no ódio tenho energia...Esta noite bem vi que falavam de mim e que se riam de mim. Bem o sei ebem o sinto, e é humilhado, rasteiro, que eu me ponho a escutá-los, a falarlhes...
Acontece-me às vezes não ver um amigo dois meses: quando outra vez oencontro, é para mim um desconhecido.Suspendem-se na minha alma teias de aranha, como num cubículo de hámuito abandonado. Não sei o que hei de fazer. É um tédio vago, feito denévoa alastrada, que só foge com a vinda da noite, para que vou desesperadocomo para um princípio de cova, um começo do mistério do não-ser.Aborreço-me a mim próprio, depois de ter aborrecido tudo: fico absorto, sembulir, desesperado por não sentir, nem pensar.É por isto que eu fujo de conversar.Não é por ser comediante que nunca digo o que penso e o que sinto.Também nunca oiço o que os outros dizem, e, enquanto finjo escutar atento,penso em ti — vivo para ti... Assim, o que digo são restos de frases, palavrasque eu trago na cabeça. E da conversa saio sempre humilhado e irritado...Às árvores, para dar flor há de lhes doer.Ando a passear na vida uma imaginação desgraçada, que me faz achar tudopequeno na realidade. É assim que por imaginação tenho sofrido tudo esentido tudo: portanto, se uma desgraça cai sobre mim, ou se vouentusiasmado para um prazer, acontece-me amiúde ter um — era só isto! —de espanto. Tanta vez tenho assistido à minha perda e à dos outros, aescarlates quimeras, que ser morto ou ser rei, enforcado ou carrasco, não meespicaçaria com novas sensações. Estou gasto e velho, porque, sem — ó
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Outro momento e tudo isto desaparec
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Aos que se alimentam de sonho chega
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esgoto de lama amassada em lágrima
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feitio de encolhido, gestos desajei
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Mas ponho-me a pensar: Que importa
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contacto com o mundo. Cheio de entu
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Ninguém bulia. Que quimera doloros
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Morrer é não sentir, não ver, n
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Vocês todos têm pensado na vida d
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— Desaforado... Cite factos, ench
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grande, como um pintor que na febre
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E ele, descendo as escadas, com jú
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Tomado de respeito por tanto saber,
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E assim as casas, as paredes e as c
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CAPÍTULO IIHALWAINUm grito, um gri
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mesquinho, impotente, tenho a certe
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CAPÍTULO IIICAMÉLIARompeu a sinfo
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Oh como a noite é grande, imóvel,
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matilhas esperá-la à beira dos ca