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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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feitio de encolhido, gestos desajeitados, ar de quem não sabia onde meter aspernas nem as mãos enormes.«Mentira!... É que nós todos não vivemos de máscara e não representamoscomo velhos atores? Quem há aí que seja a sós o mesmo que é cá fora e quemfoi que em certas horas não representou até consigo mesmo? A Vida endurecee ai daqueles que persistem em sonhar; pobres dos que teimam em perseguir aquimera, sem quererem ver as duras pedras do caminho!»O que há a fazer ao sonho é escondê-lo e recalcá-lo, para que nos deixemviver ignorados. Para que não o escarneçam. Para que os outros — os que nãosonham — o não despedacem com uma alegria feroz. Sonhar é um crime. Háuma altura na vida em que é forçoso escolher — ou o sonho ou a vida prática.O grande golpe então é matar o sonho e adquirir o hábito das pequenascoisas. Há quem o estorcegue de repente a uma esquina; há quem leve maistempo a liquidá-lo, misturando a vida prática com a vida quimérica, tentativade que só resulta mais negro despeito. Creio que todos nascem com umquinhão de sonho, e que, mesmo nos que conseguem aniquilá-lo, há horas emque fixam o olhar num ponto doirado; e em que voltam a cabeça comsaudade... Mas é tarde; a labareda está reduzida a cinzas... Talvez por issomesmo odeiem secretamente os outros, os que sonham sempre, os quesonham até à velhice, com um ar extravagante de lunáticos, não dando amínima importância às coisas da vida consideradas importantes. Pobres eridículos sonham, e é esse o seu quinhão, melhor ou pior. Os homens práticos

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