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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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— Faça-se silêncio, respeitável Dona Felicidade.E todos arrumados à porta, os palhaços, como restos de mantos pomposos,o Doido estarrecido, esperaram, enquanto o Pita espreitava pelo buraco dafechadura...Quando entraram no quarto, o Gregório tinha os cabelos revolucionados eo olhar perdido. A mulher acocorara-se a um canto.— Não quero morrer ainda! Não quero morrer!...— Viste tudo, Gregório... O estupor da vida é assim e agora seria repetirsempre a mesma coisa, maçada inútil, meu rico amigo!... A morte liberta. Vaisser árvore, paisagem, cor, nuvens de poente... Vais ser livre... Restos de chefede repartição hoje, amanhã lábios de mulher ou alma de Poeta... Papelada friaque em breve se transformará em emoção e em lágrimas... É o último esforço:mais uns minutos de dor apenas, para nunca mais pensares...— Pita, senhor Pita, ilustríssimo e excelentíssimo senhor, que é que fez àminha alma?...— Abri-lhe um rasgão para que o sol entrasse; cores do poente, espirros delume, enchi-te de quimeras antes de morreres...E todos se curvaram em volta do catre, os palhaços mascarados, roxos,purpúreos, a Dona Felicidade, o Poeta, para verem o ultimo esgar doGregório, enquanto o Pita berrava:

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