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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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tarde para a recomeçar! — E era o corpo, era a fisionomia, eram os gestos aomesmo tempo cómicos e trágicos, era o próprio chapéu alto arrepiado, queiam desenvolvendo a farsa, fazendo ressaltar os pormenores amargos, enarrando as saburruras de toda a sua existência, o sonho de todas as suashoras inúteis, as quedas e as desilusões, numa mescla que fazia rir e calafriosao mesmo tempo. — Amar ou morrer! — Um esgar... A figura do homemque arrastou a vida sem amor — do pobre sem amor. E a sua atitude exprimiao sofrimento de se contentar com desprezíveis mulheres do acaso; o dia deprimavera em que se depara com uma criatura ruça e sumarenta que passa, enem sequer nos olha. E até a paisagem se via através dos seus gestos — umfundo roxo, fios de sol que reluzem na água e, no primeiro plano, uma abelhaa zumbir no pé de urtiga onde o orvalho deixou suspensa uma gota querebrilha como se fosse uma estrela... Outro grito: e ele encontra a mulher queama — a mulher que o há de amar; a mulher que, depois de uma vida ridícula,de pobre, de ignorado, de sonhador, o há de amar antes da morte — a mulherem quem há de cevar-se até esquecer as suas noites geladas de sonho — assuas noites esbraseadas de febre. Outro salto, outra exclamação e palavrasmascavadas de palhaço que até a dor tornam ridícula. — Pergunto então: umpalhaço não tem direito ao amor, embora seja belo por dentro e a alma se lheabrase em amor? Quem passou a vida a sonhar, se chega ao momento em quea vida não se compreende sem amor — não tem direito a ser amado? —

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