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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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matilhas esperá-la à beira dos caminhos, nos sítios ermos e bravios e nelacevavam a sua voluptuosidade e o seu grotesco sonho de amor. Haviamonstros que não se atreviam a aparecer à luz do dia, e na noite profunda sóo olhar cego e frio, átono e frio, imóvel e frio, lhes luzia. Batiam-lhe.Sujeitavam-na a extraordinárias carícias, a lascívias que durante muitos anostinham imaginado. Dormiam à sua sombra. E ela, sempre com o mesmosorriso de piedade e de tristeza, abandonava-se alheada. Atiravam-na foracomo um trapo, e santa Eponina erguia-se e partia com a sua canduraimaculada. De toda a parte acorriam os mendigos ascorosos, caravanas deleprosos: alguns arrastavam-se pelos caminhos, com rugidos, outrosblasfemavam na noite, não querendo morrer sem a terem possuído.— O que eu quero? O que eu quero é dormir contigo, bem junto a mim, àminha carne onde as chagas supuram, é sentir a tua frescura na crosta destapele que requeima como uma brasa — ó minha amada! — E as faucesabriam-se em risos que já não eram da vida mas do túmulo. — Dá-me a tuaboca! O que eu quero de ti é a tua boca! — E ela curvava-se sobre os seresimundos que não tinham boca e que insistiam de entre a podridão: — Beijamena boca!...Desceu mais baixo ainda, não por amor dos homens, mas por amor deDeus, ignorando a matéria e saindo pura de todos os enxurros humanos —santa Eponina, filha de reis, com escravos, florestas e guerreiros fortes.Desceu mais baixo que as mulheres mais baixas. A vida acabou por lhe

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