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A MORTE DO PALHAÇO

Untitled - Luso Livros

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— É uma labareda. É Hélia que só consigo ver quando a mereço, e quecriei talvez noutro mundo. É o universo que os sonhadores acabarão porconstruir.Por isso sofreu. Vejam o Diário. O seu sonho, por exemplo, é Hélia — arealidade é a mulher que se vende, que lhe fazia medo e o desvairava.Porquê?... Como explicar a sensação de estrangulado que sentia ao pé dela,mãos geladas, o coração a galope? Eu compreendo... É tudo: a atmosfera dacasa, que cheira a caldo requentado e a brutalidade, por onde cada um quepassa deixa parte da sua força psíquica e do seu sonho — fios ténues, queficaram suspensos das paredes, e nos envolvem, e quebram a energia. Certo éque em torno da gente se forma um ambiente feito de outras ideias e desentimentos; dos nervos torcidos pela dor e pela paixão; uma atmosfera deresíduos, de abortos de pensamentos, de sensibilidade, se destaca e erra. Eisporque sentimos que alguém nos é repulsivo ou simpático e que certos sítiosfazem sonhar. A questão está em que a rede dos nervos se sensibilize e sinta oambiente que de cada ser se evola, formado pelas suas ideias e pela suaemoção...Já viram que todas estas mulheres são mais ou menos doidas, de olharesespantados e uma linha que se quebra, ora ávidas como um velho seco emetálico de Balzac, ora perdulárias; viciosas e castas, com risos que de súbitodesvairam? E que com elas toda a gente se desabotoa e da alma humana,

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